Do mesmo modo que surgem essas aberrações genéticas, também surgem as aberrações culturais como as duplas "sertanejas" que poluem (literalmente!) a música de nossos campos.
Pesquisando sobre música francesa há uns cinco anos atrás, achei essa bela música da banda francesa Indochine , L'aventurier , de 1982, a mais famosa do cenário new-wave local. Mas, reparem nas estrofes. Não lembra algo? Sim, lembra. Eu não conhecia a música do Indochine na época, apesar de ter até lido texto sobre a banda em 1985, mas em 1984 ouvi a música do segundo compacto da banda Ultraje a Rigor - que cheguei até a ter o primeiro álbum em vinil - Rebelde sem Causa, com título inspirado em filme com James Dean. Claro que a francesa é zilhões de vezes superior, pois os arranjos da versão do Ultraje são meio toscos e o refrão muito bobo - perdoável em uma banda assumidamente humorística. Mas são músicas legais que remetem a minha adolescência, quando eu não era rebelde, mas tinha causa.
Vocês já devem ter ouvido falar de um desenho animado bem engraçado protagonizado por um ser esquisito, todo amarelo, de formato quadrado e com grandes olhos esbugalhados. O nome desse simpático personagem chama-se Bob Esponja Calça Quadrada, ou simplesmente Bob Esponja. Neurótico, mas simpático e altruísta, Bob protagoniza um desenho que, apesar de ser muito recente, retoma muitas características de desenhos clássicos como "Tom & Jerry", "Pica-pau" e "Garfield, como um humor meio cínico, com situações que fogem da lógica, ressurreições após desastres, etc. Quanto aos personagens, a simpática esponja-macho (existe?) está acompanhada de uma estrela do mar folgazona de nome Patrick, que não sente olfato, é o melhor amigo de Bob e se veste como um turista beberrão; de uma lula mal-humorada chamada Lula Molusco; de um siri autoritário e ambicioso, Siriguejo, que é dono de uma lanchonete especializada em hambúrgueres de siri e onde trabalham Bob, como cozinheiro...
Toda vez que questiono alguém que se diverte de maneira cretina, aparece sempre outra pessoa a defendê-lo, sempre com o mesmo argumento: "deixa ele ser feliz". Não reajo, mas quieto, no meu canto me ponho a pensar: isso é felicidade? O que é felicidade? Essa deve ser uma daquelas perguntas que nem o mais dedicado cientista conseguirá resolver. Talvez seja melhor que respondamos de maneira subjetiva, quase mitológica. Mas daí a crer que para ser "feliz" tem que apelar para a ridicularização aí é fugir do bom senso. Por isso que a cultura está entrando numa decadência sem freio: a mediocrização imposta a ela nos últimos 20 anos está fazendo com que a ridicularização seja legitimada como "arte", "cultura" e "manifestação de felicidade". Ser feliz e espontâneo se tornou sinônimo de ser ridículo. Agir como retardado, empinar o traseiro, cantar músicas com letras imbecis berrar, fazer caretas, tudo isso está sendo superestimado e legitimado ...
Comentários
Postar um comentário