Há trinta anos, morria Cartola, um dos grandes sambistas do Brasil

ESPREMENDO A LARANJA: Cartola é um dos maiores compositores que o Brasil já teve, não só no samba, mas em toda a música brasileira. Suas músicas são de uma beleza e inteligência exclusivas, incrivelmente vindas de um homem humilde e de pouca escolaridade. Ele, sim é uma prova definitiva de extrema inteligência natural, que os popularescos dizem ter e na prática não possuem. Cartola deve estar vivendo em planos superiores, pois seu espírito tem qualidades para isto.

Cartola é um exemplo para nós, de simplicidade tanto como pessoa como artista legítimo que foi, um nome ainda sem substituto e infelizmente ignorado pela geração de mexedores de pezinho que dizem "exaltar o samba" mas na verdade envergonham o gênero com sua incompetência, mercenarismo e falta de talento.

Cartola, ainda estamos com saudades de você.

Há trinta anos, morria Cartola, um dos grandes sambistas do Brasil

30 de novembro de 2010 • 16h44 - Site Terra

Em 30 de novembro de 1980 o Brasil perdia o compositor Angenor de Oliveira, o Cartola. Considerado por muitos críticos o maior sambista da história da música brasileira, Cartola teve uma vida a altura das letras tristes de seus sambas, como Alvorada, Disfarça e Chora e As Rosas não Falam.

Origens

Angenor de Oliveira nasceu em 11 de outubro de 1908 no Rio de Janeiro. Deveria se chamar Agenor, mas um erro do cartório adicionou uma letra a mais no nome. O pai Sebastião era funcionário do Palácio do Catete, e sua infância, passada nos bairros do Catete e Laranjeiras foi humilde, mas não pobre, e ele teve acesso à escola, algo raro na época. Mas dificuldades financeiras levaram a família a se mudar para o morro da Mangueira, na zona norte do Rio, onde então havia uma pequena favela, quando ele tinha onze anos.

O jovem Angenor aprendeu com o pai a tocar violão e cavaquinho e cedo se apaixonou pelo samba. Na adolescência se tornou protegido do lendário malandro e sambista Carlos Cachaça, e juntos eles formaram o Bloco dos Arengueiros, o embrião da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, fundada em 1928. Aos quinze anos ele largou os estudos e começou a trabalhar como pedreiro. Seu hábito de usar um chapéu coco para proteger a cabeça do cimento gerou o apelido Cartola.

Sua mãe morreu quando ele tinha 17 anos, e as constantes brigas com o pai devido à sua vida boêmia o levaram a sair de casa. Ele vive uma vida de malandragem, bebendo, freqüentando prostíbulos e dormindo em trens, até ser "salvo" por uma vizinha mais velha, Deolinda, que se apaixonou e levou Cartola para morar com ela. A casa era freqüentada por malandros e sambistas como Noel Rosa. Após fundar o bloco dos Arengueiros e a Estação Primeira de Mangueira, Cartola começou a ficar conhecido fora da comunidade, e na década de 30 teve sambas gravados por grandes cantores da época, como Mário Reis, Francisco Alves, Silvio Caldas e Carmen Miranda.

Esquecimento

A consagração maior veio em 1940, quando Carola foi convidado pelo compositor erudito Heitor Villa-Lobos para uma gravação de ritmos folclóricos brasileiros encomendada pelo maestro americano Leopold Stokowski, realizada em um navio ancorado no porto do Rio. No mesmo ano ele estreou o programa A Voz do Morro, na rádio Cruzeiro do Sul. Mas na década de 40 começaram os problemas. Uma nova diretoria da Mangueira começou a boicotá-lo, e ele acabou deixando o morro. Ele contraiu meningite e a mulher Deolinda morreu devido a um ataque cardíaco.

Trabalhou em subempregos, como vigia e lavador de carros, e se entregou à bebida, com diversos problemas de saúde, como a infecção no nariz. Foi "salvo" novamente por uma mulher, dona Zica, antiga admiradora, com quem viveu até sua morte. Foi redescoberto artisticamente pelo jornalista Sérgio Porto, lavando carros no bairro de Ipanema. Voltou a se apresentar no rádio e em bares e restaurantes, e na década de 60 abriu, com dona Zica, o famoso restaurante Zicartola, que virou ponto de encontro dos maiores sambistas e músicos ligados à bossa nova, como Nara Leão, Paulinho da Viola e Nelson Cavaquinho. O Zicartola não durou muito, mas entrou para a história da boemia carioca.

Consagração

Em 1965, o disco Opinião, de Zé Keti, João do Vale e Nara Leão, trazia a faixa O Sol Nascerá, de Cartola. Ele participou de discos de Clementina de Jesus e Elizeth Cardoso, e em 1968 participou em duas faixas do LP Fala Mangueira. Na década de 70 veio a consagração final, que começou com uma série de shows organizada pela UNE (União Nacional dos Estudantes). Nomes como Paulinho da Viola, Clara Nunes e Elza Soares gravaram seus sambas. E, em 1974, aos 66 anos, ele lançou seu primeiro LP, produzido de forma independente por Marcus Pereira, onde cantou, acompanhado por instrumentistas de primeira linha, sambas belíssimos como Tive Sim, Alvorada, Corra e Olhe o Céu e Quem Me Vê Sorrindo, entre outros. Outro disco, de 1976, trazia As Rosas Não Falam e O Mundo é um Moinho, além de versões de Preciso me Econtrar, de Candeia, e Senhora Tentação, de Silas de Oliveira.

O sucesso dos dois discos levou à uma consagração final, e ao morrer, em 30 de novembro de 1980, vítima de câncer, Cartola já era considerado um dos nomes mais importantes da história da música brasileira. O poeta Carlos Drummond de Andrade dedicou a ele uma crônica publicada no Jornal do Brasil, e seu velório foi acompanhado por praticamente todos os grandes nomes do samba e da MPB.

Talvez o traço mais característico da obra de Cartola seja a sofisticação e o uso impecável da língua portuguesa em suas letras, aliadas aos arranjos ao mesmo tempo singelos e sofisticados. Em 2007 foi lançado o filme Cartola: Música Para os Olhos, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, e no ano seguinte seu centenário foi comemorado com uma série de discos e shows especiais. E hoje, nos trinta anos de sua morte, Cartola é homenageado pelas novas gerações. A palavra "Cartola" chegou ao topo dos "trending topics", lista de assuntos mais comentados do Twitter no Brasil.

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