Gustavo Lins e Luan Santana: o brega se renova



Antigamente a palavra "cafona" significava, além de piegas e ridículo, algo que estaria fora de moda. Mas desde os anos 90, não dá para classificar o que é cafona ou brega como algo fora de moda pois o brega está cada vez mais em moda hoje em dia.

Quando eu era adolescente, o pessoal da minha idade costumava rir da cara dos bregas. E isso não mera preconceito. Realmente os bregas apelam para o ridículo, o patético. Tanto é que quando o brega assume o seu lado ridículo, cômico, eu respeito, não costumo criticar. O perigo não está no brega existir, está no brega se levar a sério. Aí é que ele começa a incomodar.

Com a crise da MPB e a escassez de novos nomes, parece que mídia e público se encafifaram de adotar os neo-bregas como a "nova MPB". Se analisarmos as obras dos neo-bregas, é fácil notar uma mediocridade, uma falta de capacidade de criar obras que se mantenham a altura da MPB. Geralmente, quando os neo-bregas precisam ser rotulados de "nova MPB", apelam para as aparências, já que, embora não assumissem publicamente, tem o conhecimento de sua capacidade limitada de criação.

E é aí que Zezé di Camargo, Alexandre Pires, Chiclete com Banana, Ivete Sangalo, funqueiros, e similares, apelam para o "banho de loja", melhorando o visual e os arranjos e mixagens de seus discos para parecerem "luminosos" perante o público que não consegue enxergar a limitação artística desses nomes. Ou se enxergam, consideram essa limitação uma "vantagem", já que a MPB tradicional "não fala a linguagem do povo". Antes o povo teria que se evoluir para entender o artista. Agora o artista tem que se mediocrizar para falar a linguagem do povo, cada vez massacrado pela má qualidade da educação de nosso país e pela submissão total à mídia (o episódio da escalação do Dunga provou isso).

Mas a música brega, que virou um modo de ganhar dinheiro fácil e de fazer sucesso na música com talento escasso, comparável ao de um cantor de churrascaria ou calouro de progameco de TV, continua renovando seu estoque de ídolos postiços que acabam por enganar a população, que não sabe o que é arte, mas pensa que sabe, já que conhece a palavra, mas não conhece os exemplos de seu significado.

Vou me ater neste texto a dois nomes, que chamam a atenção pela pouca idade que possuem: o sambrega Gustavo Lins e o breganejo Luan Santana. A juventude e o visual moderninho servem de escudo para qualquer crítica, já que muitos não conseguem associar a palavra"cafona" a algo que transpira, mesmo falsamente, uma modernidade.

Não vou ficar analisando a obra de cada um para não perder tempo. O que posso dizer é que eles levam para a mídia um rascunho típico de estudante de ginásio, fazem sucesso com esse rascunho e os incultos e incautos, definem como "nova forma de fazer música", não aceitando a possibilidade de que um nome novo possa ser pior que um antigo (não por acaso, é de Auguste Comte o lema de nossa bandeira - ele defendia que as coisas só avançam, descartando a possibilidade de decadência). É possível sim, já que estamos vivendo na era do entretenimento, da mercantilização da música, que favorece a mediocrização da mesma, já que as obras não importam mais, importando agora o retorno financeiro que essa música dá a quem produz.

É a redução da arte a produtos, que sempre predominou na ótica hit-parade dos EUA e o que faz empurrarem idolos decadentes na terra do Tio Sam a fazerem sucesso por aqui. Sabe quem menos chorou a morte de Michael Jackson? Sim, foram os ianques, compatriotas do ídolo. Não choraram porque conheciam a peça, vendida aqui no Brasil como "revolucionário e culto". Existe uma tradicional mentalidade dos brasileiros burros em acharem que não existe música brega nos EUA. Existe e muito.

A bregalização da cultura brasileira (que estranhamente é defendida pela "esquerda" brasileira) é a adaptação brasileira a mediocrização através do hit-parade ocorrida nos EUA da década de 80. Ainda bem que pessoas intelectualizadas, em sua maioria não se rendem a essa bregalização. Mas infelizmente a música de qualidade acaba por ser rotulada pejorativamente de "música para intelectual" e que o normal mesmo é consumir música brega, que ela "fala para o povo".

É um horror saber que o artista tem que diminuir sua capacidade intelectual para "falar com o povo". É como se eu, com nível superior, com larga experiência de vida (faço 40 ano que vem), tivesse que abrir mão de tudo o que eu aprendi para conversar com uma criança de 4 aninhos de idade. É justamente isso que mídia e povo quer que o artista faça. Ao invés do povo se esforçar para evoluir para entender alguém intelectualizado, pega-se alguém que deveria estar intelectualizado, abobalha ele, para que ele possa conversar com quem ainda não desenvolveu as qualidades necessárias para a vida em sociedade. E aí mediocriza tudo e acontece aberrações como o ajoelhamento de mídia e público para um esporte que nada vai trazer de positivo para a população além de uma mera distraçãozinha, um mero passa-tempo.

Citei Gustavo e Luan, como exemplos, mas eles não são os únicos. A indústria do entretenimento quer alienar e para isso a produção de ícones postiços que desfilarão com sua mediocrídade, assassinando aos poucos nossa cultura que é riquíssima e que corre os risco de desaparecer por causa dos interesses puramente financeiros de quem controla as rédeas da cultura hoje em nosso país.

Num país que no passado gerou uma cultura riquíssima, insisto em dizer que não precisamos de axezeiros, "sertanejos", "funqueiros", pagodeiros, bregas e outras formas de mediocrização cultural. O que não tem consistência pode até durar muito, mas não a eternidade.

Não comemoraremos os 300 anos de nascimento de Gustavo Lins e de Luan Santana ou de qualquer outro ídolo popularesco hegemônico na mídia. Se daqui a 10 anos ainda ouvirmos falar deles, é graças a muito marketing por parte de capitalistas gananciosos. A "esquerda" que abra o olho. E feche as pernas para os empresários gananciosos do entretenimento.

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