Futilidade em alta

Estamos em época de copa do mundo de futebol, o período em que a futilidade alcança níveis extratosféricos. Mas há tempos, os brasileiros têm colocado a futilidade acima de interesses sérios, seja por conformismo ou pelo exagero apego a essas futilidades. O interessante é que para quem defende essas futilidades, as mesmas não são fúteis e sim "necessárias" e "sérias".

Futebol (eeeee!!!), hit-parade americano (a "comemoração" de 1 ano de morte de Wacko-Jacko está vindo aí - se preparem que lá vem besteira!), brega-popularesco (axé, "funk", pagode "sertanejo", brega e afins), noitadas (ic!), bebidas alcoólicas (sobretudo cerveja e champanhe), preocupação com a beleza (mulheres) ou com o porte físico (homens), etc., fazem parte da verdadeira preocupação da maioria dos brasileiros, que não conseguem, por medo ou conformismo, melhorarem a sua qualidade de vida, colocando substitutos postiços para a felicidade que não possuem de fato.

Para essas pessoas que valorizam as futilidades, estas fazem parte de um conjunto de valores tradicionais que elas estão acostumadas a acreditar desde bem jovens. É um conjunto de valores tão arraigado, que fica difícil combater, gerando nessas pessoas uma inconformada raiva, já que não toleram que alguém os critique por acreditarem em algo que para elas "está no sangue", ou seja, algo que elas acham natural, biológico, e não adquirido por meio de lições, e costumes.

Isso acaba por dar um excessivo valor ao entretenimento e atividades de lazer, transformando-os em artigos de "primeira necessidade". por causa disso, o Brasil está se transformando numa potência do entretenimento, como se o nosso país fosse um enorme parque de diversões. Muitos organizadores de eventos de entretenimento no mundo já querem fazer "versões brasileiras" desses eventos, já percebendo a grande importância que o povo tupinquim dá à simples diversão.

Por isso mesmo, as autoridades trataram de forçar a escolha do país na organização da copa de 2014 e da olimpíada de 2016 sem ter condições plenas para isso. Acreditam as autoridades que investimentos para a realização desses eventos estão garantidos. Mas demonstrações práticas denunciam a falta de retorno financeiro para compensar os altos investimentos. Sem ninguém saber, o Japão e Coréia amargam até hoje os prejuízos por causa da organização do evento. E o pior que eram dois países, o que poderia evitar qualquer perda. Imagine no Brasil país menos desenvolvido que os dois organizadores da copa de 2002, campeonato no qual a seleção brasileira se consagrou campeã às custas de muita trapaça (isso é assunto para outro texto)? 2017 será realmente um ano de pagarmos as (altíssimas) contas pela realização desses grandes eventos. Esperem e verão.

Supervalorização da diversão coloca entretenimento no lugar de cultura

O desinteresse por coisas intelectualizadas, somada a vontade de elevar a sua auto-estima por meio de rótulos vazios criou o absurdo de transformar entretenimento puro em "arte superior" e "cultura".

Ultimamente temos ouvido coisas como "futebol é patriotismo", "Michael Jackson é gênio", "o 'funk' é movimento cultural", "esporte transforma pessoas", "axé representa o povo da Bahia", "hip-hop vem da cultura de rua", "sertanejo universitário", "brega universitário", "pagode universitário" entre outras tentativas de dar um ar de intelectualismo e necessidade a coisas criadas para um mero divertimento de pouquíssima duração.

A preguiça e o desinteresse da população a coisas intelectualizadas, muitas vezes consequencia da má qualidade de todo o sistema de ensino de nosso país e da ausência total da família na educação das crianças, quando somada ao orgulho instintivo de se achar melhor que o outro, força a colocação de rótulos pomposos, relacionados com valores elevados em coisas completamente fúteis e inuteis, dando a estes toda a importância que na prática não possuem.

Crendo intelectualizados, graças a esses rótulos, a população acaba por escapar de toda a tentativa de esforço para se intelectualizar. Até porque a mídia e as regras sociais obrigaram a sociedade a acreditar que tudo que é realmente intelectualizado, "não é intelectualizado. É chato". Para eles, só a futilidade valoriza a inteligencia.

Colocar futilidade no lugar de necessidade é sinal de conformismo

O excessivo culto a diversão pura e o desinteresse por tudo aquilo que esteja ligado à intelectualidade, tem gerado uma aberração muito frequente ultimamente de colocar futilidades no lugar de coisas sérias, que são descartadas por serem consideradas "difíceis e chatas". Por causa disso, há o frequente hábito de rotular pessoas de esclarecidas de "mal-humoradas" e "egoístas", embora os defensores da "diversão indispensável" demonstrem claramente comportamentos egoístas ("não me conte seus problemas" - como diz uma grande "mentora" desse pessoal) e ficam irritados quando contrariados. São gente desse tipo, que coloca a diversão acima de tudo que mais escreve contra este blog e contra outros que pensem semelhantemente ao mesmo, principalmente quando algum totem dessa gente "alegre" é questionado, mesmo de maneira construtiva.

Ao defenderem seu ponto de vista, essas pessoas iludidas e acomodadads nesse sistema injusto, argumentam que eles tem o direito de "serem felizes" e que essa difersão é a fonte dessa "felicidade". Discordo completamente dessa gente. Quem é feliz sem ter o necessário? Usar diversão como fuga para uma felicidade real que é ausente nunca é um bom negócio. Parece coisa ou de gente que tem medo de "peitar" autoridades (algo muito comum em nosso país, onde até moderadores de comunidades do Orkut são respeitados como se fossem "deuses") ou de gente masoquista, que acha positivo faltar o necessário em suas vidas.

Falsa felicidade do povo é a verdadeira felicidade dos privilegiados

A elite, sobretudo políticos e grandes empresários ficam muito satisfeitos em um cenário como esse. Colocar a diversão no lugar de coisas necessárias é muito bom para as elites, pois ela não se sente na obrigação de repartir seus privilégios ("um pra você, dois, três, quatro pra mim") além de manter a massa bem quietinha, numa paz conformista que acaba por manter intactas todas as injustiças sociais que cansamos de ver nos telejornais.

Enquanto pessoas esclarecidas continuarem sendo esnobadas e desprezadas como "Cassandras modernas", essa elite, que quer ser vista como "tutora da humanidade" e nunca é questionada (nem quando impõe as absurdas regras do "mercado de trabalho"), todo o sofrimento da população irá continuar e o sofrido povo continuará utilizando a diversão fútil como fuga, mantendo um interminável ciclo formado por um círculo vicioso sempre mantido por essa cruel colocação da futilidade no lugar da necessidade.

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