Porque no Brasil só fazem filmes sobre pobres?

Eu vejo os filmes nacionais e me pergunto. Salvo uma raridade bem escassa, os cineastas brasileiros têm preferência a fazer filmes que contem os problemas e/ou o cotidiano das classes mais carentes do país. Qual é o porquê disto. Não soa uma hipocrisia?

Boa parte dos cineastas brasileiros vieram das classes mais abastadas. São gente que não sentiu na própria pele os problemas que os pobres sofrem. Mas porque eles não fazem filmes sobre a vida dos ricos, algo que eles entendem muito bem?

Muitos devem argumentar: "a vida de rico é tão chata, não dá para contar boas estórias com ela". Se ser rico é tão chato, porque ao invés de fazer filminho, eles se livram de boa parte do dinheiro que têm, distribuem aos pobres e se transformam em miseráveis também? Ficamos sem resposta.

Não estou dizendo que não faça filmes usando pobres como tema. Mas do jeito que fazem no Brasil, soa como uma hipocrisia. Como se falasse sobre a pobreza sensibilizasse a população. Sensibilizar o público, porque cineastas e patrocinadores, não. Esses continuam cada vez mais ricos e justamente por contar a estória de gente sofrida, eles conquistam prémios e muito mais dinheiro. Depois de se aventurarem na poeira do cenário natural de seus filmes, correm para as suas mansões para tomarem banho e treparem com belas gatas em camas de ouro.

Cosmética da Fome

Esse cinema em que cineastas bem polpudos fazem filmes sobre pobreza ganhou um nome pejorativo: Cosmética da Fome. É um trocadilho com a Estética da Fome proposta pelo cineasta baiano Glauber Rocha, esse sim, um cineasta preocupado com as causas sociais.



A Cosmética da Fome seria o nome dado ao cinema feito por esses cineastas sem preocupação social que utilizam a pobreza como fonte de estórias, ignorando toda a possiblidade de resolução dos problemas da classe pobre. Ou pelo menos deixando a resolução para terceiros como se isso nada tivesse a ver com tais cineastas.

E como é que eles conseguem contar as estórias? Eles não conhecem as gírias, o estilo de vida e... sobretudo os problemas! Devem pagar alguém para ensinar a ser pobre. Às vezes até convence, mas mesmo assim, soa hipócrita.

A mídia de nosso país está lançando uma intensa campanha em defesa do "orgulho de ser pobre" e a Cosmética da Fome deve estar incluída nisso. Essa campanha nefasta tem o objetivo de deixar o pobre preso em sua humilhante condição social, só que mascarando seus problemas com paliativos e com a exposição nos meios de comunicação de seu cotidiano e de ídolos criados para "representar a classe pobre".

Inventa-se que o baixo nível intelectual do povo pobre é a nova inteligência e BINGO! Cria-se uma classe conformada com sua miséria e totalmente incapaz de reinvindicar melhorias reais, já que para se ter essas melhorias, teria que deixar de ser pobre e tirar a parte dos ricos. PRONTO! As desigualdades estão mantidas e os ricos estão tranquilos trancados em suas mansões rindo daqueles que ele diz - na frente das câmeras - valorizar.

E assim todas as injustiças são mantidas como estão, apenas transformando a classe humilde em principal alvo dos holofotes da sétima arte.

Nunca na história de nosso país foi tão lindo ser feio, sujo e miserável.

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