35 reais não compram nada

Sobrou uma graninha e resolvi comprar alguma coisa. Classe média baixa só usa dinheiro para as obrigações. Raramente sobra alguma coisa extra.

E como sobrou, resolvi comprar algo supérfluo. Nem bem supérfluo, pois eu estava a fim de comprar alguma coisa que pudesse me fazer crescer intelectualmente, como um CD de música erudita, um DVD de filme europeu ou um livro de teoria.

Fui ao Rio (em Niterói há poucas lojas que possam vender algo mais "cabeça"), na esperança de encontrar algo até 35 reais. Como as Lojas Americanas vendem qualquer coisa de "povão" a 10, 15 reais, acreditei que pudesse encontrar algo interessante a R$ 35.

Grande engano. O ítem mais barato foi uma coletânea de 6 CDs dedicados a obra de Vivaldi a R$ 43. Até estava barato (6 CDs eruditos a R$ 43 realmente é um pechinchão), mas eu só podia gastar até R$ 35. Outras obras estavam a mais de 50 reais, inclusive o DVD do filme IF.... (que assisti há muitos anos e adorei (e tem o mesmo Malcolm McDowell de Laranja Mecanica) e um livro de Tzvetan Tododrov, A Conquista da América, no qual foi extraído um texto que li para uma aula na faculdade de Letras.

No Brasil tem-se a burra ideia de que culto é sinônimo de rico e burro é sinônimo de pobre. Um erro gravíssimo, já que conheço muitos pobres cultos e muitos ricos completamente ignorantes. Com base nisso, os produtos dedicados aos de menos cultura são baratos e os itens de interesse de pessoas cultas caros.

Resultado: os ricos burros até se dão bem , pois o produto do interesse deles acaba saindo mais barato ("legal, vai dar para pagar mico na Disneylândia, final do ano", pensa o rico alienado que economizou uma pequena fatia de sua gorda fortuna); os pobres cultos têm que suar muito e comprar em longas prestações aquilo que é de seu interesse ou baixar na internet, cometendo o suposto "crime de direito autoral" (num país onde homicídio não é considerado hediondo e tem punições bem leves) .

A carestia dos produtos intelectualizantes é uma "ótima" contribuição para que nossa sociedade permaneça eternamente na alienação arraigada onde se encontram. Pra quê o governo fingir que se preocupa com cultura se não dá estímulo para desenvolvê-la?

A música abaixo foi inspirada no desinteresse da população por uma cultura mais evoluída.

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