Festival de Verão está cada vez pior. E Rock in Rio irá pelo mesmo caminho...

Com a mercantilização da cultura, do entretenimento e esporte, favorecendo uma mediocrização em prol do lucro garantido, os festivais de música tendem a piorar cada vez mais o seu elenco de atrações, visando atrair gente cada vez menos intelectualizada, consumista, disposta a gastar muito dinheiro com qualquer futilidade que vierem pela frente.

Um povo que não é exigente em qualidade de vida não costuma ser exigente culturalmente. O que as autoridades oferecerem está ótimo. Só colocar um pouco de pompa, jogo de luzes e muitos dançarinos para o povo ficar embasbacado, pensando que viu a 8ª maravilha do mundo. A copa e as olimpíadas estão vindo aí para ludibriar a turba de deslumbrados. O Rock in Rio serve de aperitivo a esses eventos. E o Rock in Rio também tem o seu aperitivo.

É o Festival de Verão, que já virou tradição em Salvador há anos. Eu assisti a algumas edições, em dias que tinham no mínimo duas atrações no mínimo interessantes.

Hoje, além de ter um ingresso caríssimo, há o predomínio de atrações de qualidade sofrível, com a priorização das medonhas atrações locais (o festival serve de "teste" para o Carnaval), muitas delas participando sem cachês ou por cachês simbólicos (o festival é uma vitrine irrecusável). Por causa disso, todas as edições têm a presença de Ivete Sangalo e do jurássico-caquético Chiclete com Banana, liderados pelo idoso Bell Marques (que nos bastidores é mostrado como um mau-caráter completo), amigos dos organizadores.

Esse papo de "todos os ritmos" é propaganda enganosa. Em Salvador, há um consenso entre os não-roqueiros (maioria) de que "rock" é tudo igual, sobrando até para o que não é rock. Para se ter uma ideia: Queen, New Order, Beyoncé, Strokes e Iron Maiden, nomes tão díspares na realidade, para boa parte dos soteropolitanos, eles fazem absolutamente o mesmo som. Ignorância musical que faz com que as atrações internacionais sejam armengadas (geralmente 5º escalão), pois "vale qualquer um".

Todos os ritmos, mesmo? Conversa fiada. Sinto ausência de muitos ritmos no festival, que na verdade é um engodo para angariar dinheiro e manter Salvador na estagnação cultural em que se encontra desde o final da década de 70, com uma monocultura imbecilizante que faz de tudo para impedir qualquer evolução intelectual da cultura local.

Rock in Rio vai pelo mesmo caminho

Este ano teremos mais uma edição do Rock in Rio. Deve ser uma ruindade amplificada. Apesar de um número maior de atrações internacionais, realmente sintonizadas com o que a mídia mostra, a qualidade musical ainda ficará a desejar. E para piorar, no primeiro dia não teremos rock, pois as atrações que já foram confirmadas serão Katy Perry e Rihanna (que fazem dance music), Elton John (que gosto, mas considero um cantor de música romântica - embora ninguém ache) e a popularesca Claudia Leitte, que já fez das suas no Festival de Verão. Nenhum deles comprometido com o gênero consagrado por Elvis Presley.

As outras atrações, mesmo as roqueiras, deixam a desejar: o sonolento Coldplay, o mediano Red Hot Chili Peppers e os traíras do Metallica (quem conhece o episódio do Napster, sabe porque eles são traíras), nenhum deles capaz de me tirar de casa e pagar para assistir, além de encarar a distância e a dificuldade de transporte para me deslocar de Niterói aos arredores do Rio Centro, vizinho da Cidade do Rock.

O Brasil não é a Inglaterra. O país dos Beatles tem uma tradição de grandes festivais, que acontecem semanalmente em todo o ano, com atrações bem escolhidas e preocupação (não em todos, mas em muitos deles) com a qualidade musical. Aqui não teremos um Glastonbury, um Reading Festival. Nem uma casa do tipo Marquee, nós temos mais, já que o Circo Voador (outrora nosso "Marquee" brasileiro) se vendeu aos "funqueiros".

Uma das desvantagens de ser brasileiro é que para se divertir, tem que abrir mão do prazer e seguir a massa acéfala, que se alegra com o que aparece nos meios de comunicação e se encontra em fase de hipnose preliminar pela supérflua copa que virá em 2014 e que pode deixar estragos nos cofres públicos, que não serão sanados pela versão carneirinha dos hooligans que irão aportar por aqui.

Como eu gostaria de ter nascido na Inglaterra, minha verdadeira pátria... Glastonbury... Reading... música de qualidade... como eu gostaria...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Canção do Ultraje a Rigor é plágio de música de banda francesa de new-wave

Personagem de novela me fez chorar sinceramente

Eu detesto feriados