Falta de unanimidade incomoda muita gente

Nesta semana a marca de cerveja Devassa, sabe-se lá porquê, contratou a cantora de "sertanejo universitário" Sandy Leah como garota-propaganda. Ao experimentar o produto, Sandy, famosa pela carolice, não gostou, após beber meio sem jeito. Ela disse em entrevista posterior que não gostou do sabor, nem se não fosse alcoólica e que não gosta de se embriagar para não perder o controle. Eu não bebo álcool pelos mesmos motivos.

Sandy virou objeto de chacota por parte de jornais popularescos e sites de humor, justamente por esse episódio, que não agrada à sociedade que cultua tanto a cerveja, uma bebida tratada como um ritual, como uma obrigação, quase uma etiqueta social. A coisa é tão levada a sério, que os brasileiros só são dispensados de tomar cerveja se for por motivos religiosos ou por saúde.

E somente a obrigação social pode justificar o fato de uma bebida de sabor tão ruim ser a mais popular no país. Eu até tentei beber uma latinha, em 2009, no Festival de Verão de Salvador. Rapaz, além de não ter sentido prazer (gosto de dipirona com pão), entrei numa depressão incontrolável. Eu me achei antipático. Uma experiência que não vale a pena ser repetida.

Dona Canô, mãe de Caetano também reclamou do sabor da cerveja em outra oportunidade. Ninguém é obrigado por lei a tomar esse troço. Obrigar alguém a gostar de cerveja é anti-democrático.

As pessoas gostam de acreditar que as ideias e gostos que elas defendem são unanimes porque dá um falso caráter de "biológico" a essas ideias e gostos, como se fizessem parte da natureza humana, como se estivessem "no sangue" das pessoas. Por isso que pessoas que possuem ideias, gostos, hábitos diferentes são tidas como "loucas", como se "algo errado" estivesse no cérebro das pessoas que não aderem a esses modismos e tradições. Talvez a escolha de Sandy, uma pessoa normalmente associada a aversão à cerveja, seja a maneira de forçar essa unanimidade, na tentativa de atrair novos consumidores para a cerveja.

Parece que em tempos de neo-direitismo, neo-conservadorismo e com surgimento de novos fascistas, parece que o Brasil está se tornando uma democracia de fachada, onde vale o que a maioria pensa e onde as pessoas com ideias novas, gostos e hábitos diferentes são humilhadas até o limite, sem dó. Ou no mínimo desprezadas, por causa da "loucura" atribuída a elas.

Para mim, Sandy está meio errada, meio certa. Errada porque aceitou ser garota-propaganda de algo que pessoalmente não gosta. Mas certa por não ter aderido em seu cotidiano a algo que é hipnoticamente imposto a toda a sociedade, um passaporte para a falsa felicidade, um "elixir" conquistador de falsos amigos, rumo a um sucesso fácil e efêmero, que poderá terminar cedo num túmulo, ou na melhor das hipóteses, virar uma demência por AVC, uma cirrose ou doenças cerebrais de tudo quanto é tipo.

Mas como a cerveja é a bebida dos burros, ninguém está aí para os danos. Até porque se eles não tem cérebro para cuidar, para quê cuidar?

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