Keith Jarrett, concerto sem fim

ESPREMENDO A LARANJA: Keith Jarrett é um dos maiores pianistas do mundo, seja de qualquer gênero. Um gênio que exerce sua maestria em cada concerto que realiza, um diferente do outro. É preciso assistir a todos os shows feitos por Jarrett para conhecer do que ele é capaz.

E esse verdadeiro mestre do piano vem ao Rio para uma apresentação. Talvez eu nem vá, embora estivesse ansioso para assistir. Afinal um dos nomes que é sinônimo de qualidade musical e cultura na mais pura essência, deve ser visto por todos aqueles que apreciam a boa música.

Keith Jarrett é um daqueles nomes que ficarão para sempre, pois a sua música não pertence a época nenhuma e sim a eternidade.

Que venha o grande pianista, para ensinar a todos o que significa a palavra "música".

Concerto sem fim

Plantão | Publicada em 27/03/2011 às 09h12m - Arthur Dapieve - * Especial para O GLOBO

RIO - Keith Jarrett é o criador de um estilo de música chamado Keith Jarrett. Ele sobe ao palco com a cabeça limpa de qualquer tema predeterminado, lança as mãos ao piano numa espécie de transe e improvisa durante um longo tempo, num fluxo aparentemente inesgotável de ideias e melodias. Assim, cada um de seus concertos solo se torna uma experiência única, mesmo quando calha de ser capturado em disco, como o célebre "The Köln Concert", de 1975. Em abril, o Brasil terá a chance de testemunhar duas dessas apresentações. Uma na Sala São Paulo, na capital paulista, no dia 6, e a outra no Teatro Municipal, no Rio, no dia 9.

O pianista americano de 65 anos já esteve aqui, em 1989, acompanhado pelo baixista Gary Peacock e pelo baterista Jack DeJohnette, formando o trio que também entusiasma plateias pelo mundo, tocando standards, temas clássicos do jazz. Seus concertos solo, porém, são experiências tão distintas que há quem sequer os considere jazz. Na verdade, eles contêm tantos elementos, do jazz, da música clássica, da vida do artista, que o melhor mesmo seria vê-los simplesmente como um concerto de Keith Jarrett. Isso diz quase tudo. Nesta entrevista concedida ao GLOBO por telefone, de sua casa em Nova Jersey, ele diz mais algumas coisas, sobre sua relação consigo próprio, com a música e com o público.

Você se tornou um mito, maior que a vida. Como é conviver com esse status?

KEITH JARRETT: Nunca penso nisso. Eu me colocaria numa gaiola, ficaria paralisado. Quando estou no palco, eu realmente não sei o que vou fazer.

Mas você tem discípulos, músicos que foram influenciados por você. O que você acha, por exemplo, de Brad Mehldau?

Eu sei que ele costuma dizer isso. Mas... Bem, se ele é meu discípulo, é um mau discípulo. Ele não é muito inteligente. Não, não é essa a palavra. É que ele é manipulador. Às vezes parece propositalmente frívolo. Não há vida na música dele.

Você já afirmou que a morte, ou ao menos a ideia dela, paira sobre seus concertos. Ela é uma inspiração também?

Não, a morte não é uma inspiração. Mas tocar é como pular de um rochedo sem saber o que há lá embaixo. Se é pedra ou se é água. E o público está lá, faminto. Tocar é correr riscos, tem de ser perigoso. E há um elemento extra: a sensação de que se eu não tocar, ninguém mais vai tocar aquilo. Às vezes é como se meus braços estivessem amarrados, e a música saísse diretamente da minha cabeça. Nesse sentido, um concerto é uma pequena morte. É como estar numa corda bamba. Mas música também é comida, alimentação, eu preciso dela para viver. Senão, estaria em casa.

No encarte de seus últimos concertos solo lançados em disco, "Paris/London", de 2009, você fala da exaustão que sentiu após a apresentação na capital inglesa, de ter de fazer fisioterapia nos braços pela primeira vez na vida. Isso tem a ver com a Síndrome da Fadiga Crônica, que quase o fez parar de tocar no final dos anos 1990?

Não, não há mais doença. Eu fiquei exausto após todos os concertos que dei na vida. Mas eu estou mais velho... Ali, eu toquei mais duro, mais forte. Minha mulher tinha ido embora, minhas emoções estavam muito na superfície. Se eu tocar, fico completo.

Então, você nunca pensou em parar de tocar?

Já pensei, sim, mas o pensamento logo foi embora. Meu irmão disse que eu deveria parar de tocar. "Você já mudou a história do piano, deveria se aposentar e aproveitar a vida", ele disse. "Aproveitar a vida? Você sabe com quem está falando?", respondi (risos).

Além de standards de jazz e de concertos improvisados, você já gravou bastante música clássica. Bach, sobretudo, com "O cravo bem temperado" e as "Variações Goldberg", mas também Shostakovich e Mozart. No entanto, faz tempo que nada novo seu surge nesse campo. Algum plano de voltar a gravar música clássica?

Na verdade, eu terminei de gravar as sonatas para violino de Bach em novembro, em Nova York, com a violinista Michelle Makarski. Trabalhamos neste projeto nos últimos dois, três anos. Nesse tempo, fomos conhecendo melhor um ao outro. Bem diferente da gravação típica, em que os artistas só se encontram no estúdio. Descobrimos uma maneira de tocar que fosse realmente uma combinação nossa. Não tínhamos pressa.

Leia a íntegra da entrevista na edição digital do Segundo Caderno (para assinantes)

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