A equivocada revalorização do metal-farofa

Para quem tem menos de 35 anos de idade e não está afim de se informar melhor sobre o passado, se baseando no que a mídia atual informa distorcidamente, pode até se revoltar com o texto que aqui se inicia. Mas o que falarei aqui é fato, não opinião e questionar significa colocar convicções pessoais no lugar de acontecimentos reais, um sinal de teimosa ignorância.

Tirando o alternativo inglês e uma e outra banda norte-americana de som universitário, os anos 80 nos EUA e Inglaterra foram desprezíveis. Era o auge da MTV, que neste ano completa 30 anos de existência. Graças a submissão à emissora musical de televisão, a música ficou em segundo plano e a imagem passou a ser mais importante do que a canção, algo que, infelizmente, continua valendo até hoje, contribuindo para a decadência da sonoridade que ouvimos hoje em dia.

Havia um tipo de música, excessivamente calcado no visual e na pose forçada de falsa rebeldia, que fazia muito sucesso entre as meninas e os rapazes ingênuos que era conhecido como glam metal, pejorativamente conhecido por aqui como metal farofa.

Eram bandas com sonoridade ridícula, que fazia uma estranha mistura heterogênea de pieguice pop e atitude junkie, com musicas ruins - um falso heavy-metal tosco - disfarçadas por forte - e ridículo - apelo visual e pose do tipo "mamãe, eu sou rebelde". Fingiam odiar o mundo e até a si mesmos só para ficar famosos e faturar uns trocados. Seus expoentes mais famosos são o Poison, o Motley Crue, o hoje comportado Bon Jovi e o "imaculado" Guns'n'Roses.

Pelo jeito a contradição é uma especialidade desses farofeiros, que mesmo com fortes maquiagens andróginas, assumiam uma atitude excessivamente machista, falando apenas sobre sexo com mulheres e corridas de carros em suas letras. Não eram politizados, mas na década de 90, vários chegaram a fingir ser politizados para angariar "credibilidade" e justificar a rebeldia forçada. Todos eram consumidores de drogas pesadas.

Na época, os farofeiros eram claramente ridicularizados. No meu tempo de adolescência, um rapaz assumir que gostasse desse tipo de música era imediatamente ridicularizado, rotulado de maricas para baixo. Mas na década de 90, a mídia encanou de dizer que rock tinha que ser pesado e agressivo, fazendo uma revisão na imagem dessas bandas, optando por revalorizá-las, empurrando para os jovens rapazes desde então.

O que garantiu esse respeito não merecido dessas bandas, claramente mercenárias e defensoras de valores duvidosos, sobretudo machistas, é que eles se rementem ao perfil do "roqueiro estereotipado" (rebelde sem motivo, drogado, arrogante, de vida desregrada), que agrada o jovem conservador metido a rebelde. Legal, agora a juventude pode ser rotulada de rebelde mantendo valores conservadores. Bom para arrumar emprego e conquistar mulheres, além do respeito de outros "machos".

Essa associação à imagem estereotipada do roqueiro é que tem garantido a revalorização desse tipo de música de qualidade duvidosa, atitude falsa e total forçamento de barra, levando o rock a uma decadência cultural e ensinando errado a uma juventude pouco interessada em se informar sobre o passado, disposta apenas a curtir e cuspir na cara de quem tenta lhes ensinar o que realmente acontece ao seu redor.

Revalorizar os farofeiros é um sinal de total alienação e baixíssimo nível de exigência cultural.

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