Tony Goes: Sandy, Wanessa e a herança maldita

ESPREMENDO A LARANJA: Wanessa e Sandy são filhas de breganejos. Mas existe uma diferença na postura de cada uma. Wanessa é a que menos força a barra, negando a hereditariedade do pai e partindo para a sua carreira, onde ela assume que faz música fútil e sem compromissos intelectualizantes. Mesmo assim, seu trabalho de dance-music demonstre qualidade, dentro dos limites do seu gênero, parecendo realmente música estrangeira.

Além disso, Wanessa assume sem problemas a sua postura de símbolo sexual, posando de biquíni e fazendo ensaios sensuais sem vulgaridade, mas sem forçar a barra para preservar carolices. Com tudo isso, Wanessa é sincera, autocrítica e esforçada, uma pessoa que merece admiração e respeito.

Já Sandy, se mostra meio perdida na sua tentativa de se livrar do rótulo de "carola", forçando a barra em pseudo-polêmicas (o beijinho lésbico que iria "salvar" a reputação da moça foi para o buraco - era boato) em que só reforça mais ainda a imagem de "cabrita" controlada pela família.

E mais: força um intelectualismo que não existe em sua obra (com direito a dueto com a musa do underground britânico - Nerina Pallot - uma intelectual), além de fazer um som bem parecido com o "sertanejo universitário", mas sem assumir o rótulo (inclusive dizendo em entrevistas que detesta o gênero), mostrando que a especialidade da filha de Xororó e forjar na aparência algo bem contrário do que é visto na prática.

Wanessa sabe o que está fazendo e não enrola ninguém. Já a Sandy, um conselho: quer se livrar do rótulo de "certinha"? Assine com uma grife de biquínis e se torne modelo da marca por um longo tempo. Corpo você tem para isso.

Sandy, Wanessa e a herança maldita

Tony Goes - Folha de SP -12/08/2011 - 10h16

São duas princesas brasileiras. Nascidas na mais alta nobreza sertaneja, ambas são bonitas e talentosas. Mesmo assim, lutam contra o peso do próprio berço. Querem que as aceitemos por si mesmas. Mas como, se nem elas sabem direito o que querem ser?

Sandy é uma superstar desde os 6 anos de idade. Cresceu em frente às câmeras e jamais teve uma vida comparável à das outras garotas. Fez muito sucesso cantando musiquinhas caretérrimas. Hiper-protegida pela família durante a adolescência, hoje se esforça para apagar a imagem de virgem. Aos vinte e oito anos de idade. E três de casada.

Sua carreira solo ainda não se firmou. O primeiro CD sem o irmão Junior, "Manuscrito", até que vendeu bem, ainda mais nesses tempos de vacas magras discográficas. Mas nem de longe arranha o sucesso de uma Paula Fernandes - ironicamente, a nova rainha do sertanejo, gênero de que Sandy já disse muitas vezes não gostar.

Inclusive na recente entrevista à "Playboy". Mas música é um assunto secundário ali: como quase sempre, a revista só quer saber de sexo. Da primeira à última pergunta, as entrevistadoras tentam arrancar uma confissão bombástica da moça.

Mas não conseguem. Nem mesmo quando trazem à baila o sexo anal (claro que não foi Sandy quem tocou no assunto). Quem leu a resposta toda sabe que ela não declara ser fã do esporte. Tenta se sair da maneira mais diplomática possível: não condena nem endossa. Não adiantou nada: a "Playboy" jogou um fragmento de sua fala na capa, e provocou uma comoção nacional.

Foi aí que a filha de Xororó perdeu a chance de virar o jogo. Devia ter dito que sim, adora fazer anal, que seu marido sabe como excitá-la - "o de vocês não sabe?" Ia quebrar de vez a aura de santinha e assumir um novo papel: se não o de devassa, pelo menos o de uma mulher adulta que não deve satisfações a ninguém.

Mas ela, seus parentes, seus assessores, todos correram para explicar que não era bem isto. E assim voltaram à estaca zero. Apesar da campanha da cerveja, apesar da entrevista à "Playboy", Sandy continua passando a imagem de boa moça de família. E é claro que é isto mesmo o que ela é.

O caso de Wanessa é mais simples. A filha de Zezé di Camargo não foi estrelinha infantil. Começou a carreira há uns dez anos e emplacou alguns hits, mas nunca estourou para valer. Também recusou a herança sertaneja: aventurou-se no pop facinho e agora quer ser diva da dance music.

Mais especificamente, da vertente gay desse estilo. Wanessa descobriu um nicho e vem investindo nele com tudo, fazendo shows país afora em boates de rapazes. Também lançou um disco inteirinho em inglês, "DNA", muito bem produzido - e totalmente genérico. Wanessa soa como qualquer uma. O repertório até que é bom, mas falta personalidade e inovação. É forte candidato à lista dos melhores do ano. De 2005.

E assim seguem nossas princesas: simpáticas, batalhadoras, ricas e famosas. Mas elas querem mais. Querem durar. Quem não quer?

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