Uma batalha perdida? Temos que continuar a nossa luta?

Estou muito decepcionado com os rumos que a sociedade está tomando. Desde o final dos anos 80 notamos que os valores estavam desaparecendo, substituídos pela satisfação de interesses, incluindo o hedonismo barato e fútil, que na verdade sai a procura do prazer que nunca encontra.

Isso, somado a ilusão de tempos melhores, dada pela queda do Muro de Berlin e pela acelerada evolução tecnológica, tem criado na humanidade em geral, mais evidente ainda na brasileira, uma sensação falsa de "mundo pronto", onde os questionamentos devem ser calados e que resta a humanidade apenas consumir e se divertir, mesmo que isso não leve a nada. Mas isso não importa para a maioria, pois a sensação de "mundo pronto" da a ilusão de que "chegamos aonde queríamos". Só resta agora curtir.

Junto a essa ilusão de "mundo pronto" (que consequentemente leva a outra ilusão a do "mundo evoluído", ou seja, "não precisamos mais evoluir: somos evoluídos"), nasce uma aversão a tudo que é útil e intelectualizado. O cérebro passa a ser util apenas para o trabalho e para os estudos. Mesmo assumindo a inteligência apenas no rótulo, a ordem é guardar o cérebro num copo d'água, feito uma dentadura, quando for a hora de se divertir.

E ai de quem tentar usar o cérebro para se divertir. Será condenado ao rótulo de antipático, mal humorado, e nos casos extremos, rejeitado cruelmente pelo grupo social. Pensar e principalmente fazer os outros pensarem virou algo bastante reprovado em nossa sociedade. Para o bem dos poderosos.

Essa aversão a valores intelectuais é na verdade um dos matizes da desvalorização social que vivemos, onde todos os valores (morais, intelectuais, culturais, etc.) caem para dar lugar a satisfação de interesses. O anti-intelectualismo inclusive virou assunto de um ensaio do jornalista Arnaldo Bloch, da família que criou a Revista Manchete. Um texto que, pelo seu caráter realista e contestador, se tornou raro na internet, felizmente resgatado pelo meu irmão para o site dele, O Kylocyclo.

Os poderosos adoram os anti-intelectuais

Sem saber, a maior parte da população está fazendo o que os poderosos sempre sonharam. Os capitalistas conseguiram, numa democracia de fachada, fazer aquilo que os militares dos tempos da ditadura não conseguiram nem com violência: transformar quase 200 milhões de brasileiros em carneirinhos submissos, acomodados com seu estilo de vida e totalmente obedientes aos ditames da mídia, sobretudo das grandes redes de televisão, que Stanislaw Ponte Preta sabiamente chamava de "máquina de fazer doido". E na época dele, a TV não era tão manipuladora como a de agora.

Mas se você chagar a um desses "carneirinhos" e acusá-lo de conformismo e submissão, obviamente ele vai negar. Ele vai assumir rótulos de "diferente", "inteligente", "autêntico" e outros nomes bonitos que se referem a qualidades não percebidas na pessoa que os assume. Mas porque isso acontece? Porque o submisso pensa que não é submisso.

Conversei com um amigo meu que é psicólogo e ele me disse que existe uma maneira, muito comum nos programas de TV e na publicidade, de colocar uma ideia na cabeça de uma pessoa, mas fazendo a mesma crer que essa ideia nasceu na mente dela. Ele não me explicou em detalhes, já que eu sou leigo em Psicologia*. Ele garante que é assim que as coisas funcionam na relação mídia/público no Brasil.

Devo desistir da luta, após a batalha perdida?

Desde a antiguidade a alienação é questionada. Há o famoso mito da caverna citado por Platão. E quem não se lembra dos avisos da incansável Cassandra, desprezada quando avisava sobre os perigos que se escondiam dentro do belo e fascinante Cavalo de Troia? E o grandes Cavalos de Troia que estamos cansados de ver na TV.

Às vezes eu me sinto como essa Cassandra, ignorada pelas pessoas que recebem meus conselhos. Tento postar algumas coisas interessantes aqui e no Facebook e o máximo que eu consigo é o apoio de quem já acreditava nos mesmos valores antes de ler meus textos. Os que nunca acreditaram no que escrevo mantém as suas - equivocadas - convicções (pois se dão bem com elas) e ainda me rotulam de chato, antipático, pra não dizer "louco".

Devo continuar escrevendo sobre coisas diferentes? Pelo menos se não mudo a cabeça das pessoas, faço elas perceberem que os valores que elas creem não são absolutos. O que já é alguma coisa. Isso quando leem.

Pois com o desinteresse tradicional do brasileiro pela leitura, muitos vão atrás das "palavras chaves", palavras que parecem resumir o conteúdo, mas quando lidas sem a leitura completa do texto que as contém, pode render mal entendidos. Eu mesmo notei muitos casos de mal entendimento pela falta de leitura integral dos meuis textos.

Penso em extinguir esse blogue. A luta travada por ele nestes dois anos aparenta estar perdida. Perco meu precioso tempo escrevendo para tudo continuar na mesma.

Talvez, como espírita, devo reconhecer que a humanidade ainda está imatura e deixá-la crescer sozinha com os erros que está cometendo. É deixá-las priorizar suas brincadeiras, como crianças que não gostam de estudar e só querem se divertir.

Como ser humano, devo aceitar - mas não concordar - os erros que estão aí e por isso mesmo deixar de priorizar a vida social, limitando o nível de intimidade, fazendo-me íntimo apenas de quem concorda com a maior parte de minhas ideias.

O que é certo é que essa noção de "mundo pronto" dada pela tecnologia, não passa de uma ilusão, de uma ideia falsa de um mundo que tem preguiça de andar para a frente.

Não o mundo não está pronto. Há muito - muito mesmo - o que fazer. E vai demorar muito para começarmos a fazer alguma coisa. Lamentavelmente.

Vou pensar se vale a pena manter esse blogue. Mesmo que sobreviva, ele se adaptará aos tempos de derrota. Depois de perder, é preciso mudar de tática para vencer depois.

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*NOTA: A Psicologia é a segunda área que eu mais gosto depois da Administração; às vezes penso em largar a Administração e virar psicólogo. Pelo menos poderei manter minhas convicções socialistas sem maiores problemas.

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