A falsa cultura e o nascimento do patinho órfão

Existe uma lenda que diz que se um filhote de pato, ao nascer, romper a casca do ovo na ausência da mãe, adota como tal a primeira coisa que ele vê ao encarar pela primeira vez a luz.

Os brasileiros pelo jeito agem da mesma forma em relação à cultura. Nomes do hit parade, criados apenas para gerar renda, frequentar paradas de sucesso, estão sendo tratados como "grandes criadores de obras primas" pelos brasileiros que, carentes de uma cultura legítima, resolveram colocar a falsa em seu lugar.

Quem entende de música sabe muito bem que a cultura musical se encontra nume incessante e vertiginosa decadência. Mas o que preocupa é que com o surgimento de coisas cada vez piores, o ruim de antes passa a ser tratado como se fosse "de qualidade" simplesmente porque apareceu algo pior depois.

Não dá para levar a sério produtos criados e/ou desenvolvidos por escritórios de gravadora. As pessoas deveriam saber que muitas músicas não nascem de "inspiração divina", como uma maçã que cai no colo de quem está sentado embaixo da macieira.

Na música de mercado, aquela feita para as rádios e que tem como finalidade a vendagem de discos e produtos relacionados, além de ingressos para concertos, as músicas são na verdade peças publicitárias, criadas ao "gosto do freguês", para garantir que o produto seja vendido, na marra. Muitas dessas músicas nem são compostas pelos artistas, são compostas por executivos ou compositores profissionais que após muita pesquisa de mercado, criam as canções na ausência dos seus cantores e entregam a eles, muitas vezes com a assinatura do próprio cantor, para que os fãs pensem que a "obra prima" saiu da mente dele.

O desconhecimento dos bastidores da música de mercado tem criado uma ingenuidade nos fãs brasileiros que passam a acreditar que aquele produto desenvolvido nos escritórios das gravadoras é um "artista" como se o que ele canta fosse algo bem pessoal e não é.

Isso não acontece só na música brasileira, mas principalmente nos EUA, onde surgiu a música de mercado. Há todo um marketing falso para levar a crer que o que aquele artista canta sai de sua alma. Nada. Pura publicidade. Tanto é que publicitários trabalham junto com esses produtos comerciais para que todo o processo de persuasão possa dar certo, fazendo crer que o tal "artista" é um "porta-voz" dos anseios de seus ingênuos fãs.

A música de mercado é necessária, pois é ela que vai entreter as pessoas que tem o intelecto e o conhecimento cultural bastante atrofiados. O que não pode é a música de mercado ser tratada como a "verdadeira cultura" como se de canções tolas e de letras inócuas, feitas apenas como mera distração, pudesse se tirar uma grande lição de vida. A música de mercado é o fast food da música, todos gostam, mas não nutre nada.

A música de qualidade verdadeira, aquela que representa a cultura legítima, existe, mas está totalmente desconhecida do grande público. Este, sedento por cultura de verdade, não encontra um representante desta nos meios de comunicação que chegam ao seu acesso. os verdadeiros nomes da cultura são quase inexistentes para a grande mídia. Na falta desses legítimos artistas, coloca-se o falso no lugar e cria-se todo um conjunto de lendas e mitos que fazem um produto se transformar num "poeta da música".

Isso está destruindo a cultura mundial e ajudando ainda mais a atrofiar a já reduzida inteligência da maior parte da população, que crédula, ainda acredita que a evolução cultural se dará através da eliminação de todo o aprendizado rico gerado na década de 60, com certeza a melhor década de todas na história da música.

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