E se eu seguisse o conselho dos outros para tentar arrumar namorada?

Viver num país onde o povo é submisso a regras é um martírio. Para você conseguir um benefício, você tem sempre que satisfazer a exigência de quem vai lhe dar o benefício. Seja ao comprar uma coisa (o preço é a exigência), seja para arrumar emprego, arrumar namorada, etc., sempre há uma exigência que quase sempre é muito superior em nível ao benefício relacionado. Corre o risco que você ter que trocar um Rolls Royce para obter um desentortador de banana.

Mas como não tem jeito, a sociedade é burocrática mesmo (e pensa que é democrática, humpf!), resolvi seguir (de mentirinha, claro) o conselho mais comum dado pelos hipócritas quando pergunto o que faço para arrumar uma namorada: ir a uma noitada em uma boate. Vamos ao sacrilégio.

Sexta-Feira, 18 horas. Chego em casa, vindo do trabalho, cansadíssimo, sedento por qualquer coisa que signifique "dormir" e me lembro que tenho que batalhar por uma companheira. Importante: procuro uma COMPANHEIRA, não uma curtição fútil. mas como as regras sociais definiram lugares fixos para paquera (depois do namoro iniciado, se amassar nojentamente pode em qualquer lugar, não é? Eca!), vou ter que ir a um lugar desses para tentar encontrar a cara-metade, mesmo sabendo que a maioria que vai a lugares desse tipo não quer nada sério. vamos lá.

Depois do banho e de uma boquinha (um sanduíche tá bom), saio correndo para pegar o ônibus ("ah, não, Marcelo... ônibus? Começou mal..."), pois carro suga dinheiro e quem ganha 5 salários mínimos não tem condições de manter, pelo menos sem passar fome.

Chego a bendita boate. Ao chegar fico tonto. Está escuro e a única iluminação são aquelas luzes que piscam sem parar que fazer suas vistas doerem. Depois de tatear muito, consigo alcançar uma mesa. Como não gosto de álcool (não gosto por não gostar, tenho a liberdade de não gostar de álcool), compro um refrigerante e um tira-gosto para esperar o movimento aumentar. Nisso um engraçadinho de fone de ouvido, em cima de um palco, coloca uma vinil em um prato girante e ZWWWAAWWZZZZZZZZ!!! Parece que um avião supersônico resolveu decolar justamente ao meu lado. Fico momentaneamente surdo (já estava quase cego por causa das luzes). Chega mais gente.

Resolvo ir a luta. Como não sou de dar cantada (Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade - esperteza limitada) fico dançando perto de algumas garotas interessantes esperando que me dêem o sinal para conversar.

A primeira: nada. A segunda: saiu de perto de mim. A terceira: veio um branquelo alto, daqueles que quase todas as mulheres e a Confederação Brasileira de Vôlei adoram, e ficou perto dela. Sem chance para um jogador de xadrez pigmeu do Suriname, como eu.

Aí veio a quarta, a quinta etc., etc., e etc. e nada, nadinha. Até que uma, visivelmente embriagada me cantou, dizendo que sou lindo. Recusei, pois nessa situação, ela vai pensar que dormiu com o Brad Pitt para depois acordar com o Tiririca. Com certeza não quer nada sério. Nada feito.

Sem sucesso, volto para casa no meio da madrugada (custa as festas terminarem de manhã? Não. Já terminam no meio da madrugada para as mulheres "testarem" seus namorados diante do perigo noturno. Vários meliantes aparecem no caminho, mas por sorte, muita sorte, não sou abordado. Vai ver que o fato de eu ser mestiço (ha, ha, ha! seus braquelos paus de vira-tripa, vocês são o alvo! Ha, ha!), além de me afastar das mulheres, me afasta dos bandidos. Pudera, estava só com o dinheiro da passagem, já que os refrigerantes consolaram minha solidão.

Volto para casa do mesmo modo que estava quando saí, tomei um bom banho e fui tirar a minha desejada soneca. Já basta ter que seguir regras alheias 5 vezes por semana, para que seguir também no final de semana.

Lição aprendida: não siga a regra dos outros. Faça as coisas de acordo com a sua vontade e o seu talento. mas se não der, se você vive em uma ditadura social como o Brasil, o jeito é se conformar com a falta do benefício até que venha a proclamação da democracia. "Mas quando será..."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Canção do Ultraje a Rigor é plágio de música de banda francesa de new-wave

Personagem de novela me fez chorar sinceramente

Eu detesto feriados