"Não temos mais valores? Então vamos cair na farra!"

Os brasileiros atualmente colocam diversões fúteis e conceitos alienados no lugar de assuntos importantes. Nas atividades culturais inclusive, há uma preferência por obras que não sejam intelectualizadas, que só transmitam lições de vida que sejam apenas sentimentais e a população só se une se for para cair na gandaia e pular bastante, se dividindo e se espalhando quando há chamamento para atitudes sérias.

Atualmente estamos vivendo um "culto a gandaia" impressionante. Para a maioria das pessoas, sair para se divertir as custas de álcool, som alto e sexo irresponsável se transformou no principal objetivo de vida para muita gente. Muitos querem ter emprego e ganhar bem para justamente sustentar esta irresponsabilidade.

Mas porque, em pleno século XXI, quando a sociedade deveria estar mais intelectualizada, consegue ser infinitamente mais ignorante e alienada que a dos anos 60 (que considero a década mais rica da cultura de todos os tempos)?

Não se sabe se isso se dá por uma decepção com o fracasso dos ideais de intelectuais e revolucionários ou apenas por má instrução mesmo. Talvez sejam as duas coisas juntas. Talvez para a sociedade, o tempo livre depois de um cansativo período de trabalho sirva mesmo apenas para descansar e raciocinar seria uma dessa atividades que deveriam cessar nos momentos de descanso. Isso é perigoso.

O que chamamos de lazer, na verdade é o único período que temos para dedicarmos a nós mesmos. O período que dedicamos ao emprego, na verdade envolve serviços e atividades mais para satisfazer os outros do que a nós mesmos. Muita gente confunde trabalho com emprego, o que faz com que as pessoas acreditem que o compromisso de realizar algo produtivo já esteja cumprido pelas horas no emprego.

As elites querem que as pessoas pensem assim e descansem no lazer, se envolvendo em atividades cada vez manos produtivas e intelectualizantes. A elite acredita que o tempo livre para o lazer é perigoso se utilizado de maneira intelectualizada, já que muitas das manobras que garantem a manutenção das injustiças de nosso cotidiano, podem ser descobertas, se checadas pelo cidadão em seu tempo livre. Melhor mantê-lo ocupado e alienado simultaneamente.

E aí surge aquela "maravilha", que nas palavras de Arnaldo Bloch, descendente da família que fundou a Revista Manchete foi chamada de "anti-cabecismo": o desprezo e a aversão a tudo que for intelectualizado, admitindo apenas o empréstimo do rótulo para coisas menso sábias. Ou seja, odeia-se o intelectual, mas chama algum nome fútil de "intelectual", colocando-o no lugar do verdadeiro sábio, solenemente desprezado pela sociedade.

Todos querem parecer inteligentes, mas somente poucos querem ser inteligentes de fato. Ser inteligente exige esforço. Ser inteligente exige abrir mão de crenças irracionais que dão conforto a quem acredita. Ser inteligente significa ir contra autoridades e ídolos que se aproveitam da capacidade de persuasão para se beneficiar oferecendo falsas promessas a quem os segue. Como vê, ser inteligente de fato é difícil e até doloroso. Mas para quem se arrisca é sempre recompensador.

Mas não é isso que a sociedade quer. Com medo de romper com crenças, ídolos, autoridades, com a vida paliativa que possuem, preferem se manter na ignorância, se divertindo de maneira descontrolada, achando que está exercendo o maior de seus direitos.

Queda de valores de todos os tipos

Noto que vivemos numa sociedade sem valores. A população está perdida e com isso, acha que é melhor "deixar para lá" e "curtir a vida". Não temos mais valores sociais, morais, éticos, intelectuais, estéticos e de qualquer tipo. Essa ausência de valores faz com que a sociedade largue tudo, pois não tem nada para se "segurar", nenhuma ideologia a seguir.

Se a ideologia é uma necessidade básica e ela está ausente, então algo terá que ser colocado no lugar, certo? E aí aparece a famosa teimosia das pessoas a defenderem seus gostos e crenças postiços, impostos pelo sistema e aprendidos durante anos. O conjunto de crenças e gostos é frenquentemente defendido, com direito a muita raiva e até brigas, já que este conjunto substituiu a ideologia que deveria haver.

A ideologia depende de valores, sem estes, nenhuma se sustenta. O jeito para as pessoas é ficar com as crenças e defender com unhas e dentes o direito de ser alienado, sem usar este rótulo, levando uma vida de lazer irresponsável e isenta de intelectualidade, jogando fora uma grande oportunidade de fazer algo produtivo para a sociedade e permanecendo preso no cárcere cruel da ignorância, fazendo com que enxergue o mundo de maneira bastante míope, quase cega.

Pois não dá para enxergar o mundo como realmente é sem o raciocínio. Posar de inteligente é muito bonito, mas sê-lo, nos protege contra oportunistas e nos mantem vivos e ativos.

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