Para que servem as festas juninas?

Eu não canso de dizer que o brasileiro é um povo, obediente, submisso, crédulo e que só faz as coisas se a maioria das pessoas fizer. Isso é fato e tem como vantagem angariar contatos sociais, já que os principais benefícios que se pode conseguir na vida, emprego e namoro, se consegue angariando simpatia alheia.

Mas mesmo assim, tem gente que leva isso ao extremo e acaba por perder a noção do ridículo. Se bem que quando muitos fazem algo ridículo, a sensação de gafe desaparece, já que quem comete uma gafe não vai rir da cara de outro que cometa a mesma gafe. Desta forma a nossa sociedade vai se mediocrizando cada vez mais.

E porque estou escrevendo isto? Hoje é o dia de São João, considerado o mais importante dos festejos juninos.E nestes festejos, muitas escolas começam a vestir crianças e jovens da zona urbana, com a fantasia estereotipada de caipira. Zona urbana, vale destacar.

Mas porque fazem isto? Dizem que é para "preservar a cultura". Interessante que essa justificativa geralmente é usada por quem justamente está pouco interessado em conservar qualquer cultura. Mas como virou hábito no Brasil usar argumentos nobres para justificar atitudes fúteis, vale tudo.

Mas porque não assumir de vez que os festejos juninos servem apenas para se divertir? Será que não é para os urbanos tirarem sarro dos caipiras? Talvez não por dois motivos: 1) Vivemos num mundo politicamente correto onde não se deve fazer humilhações, pelo menos ostensivamente; 2) Com a bregalização cultural da sociedade brasileira, principalmente entre a juventude, vocês acham que há motivo para rir dos caipiras?

E que tipo de cultura a sociedade pretende preservar? Porque tudo que aparece nos festejos juninos não faz parte do cotidiano das pessoas das zonas urbanas - e nem das rurais, já que o agronegócio mudou a cara da vida rural - , que andam de carro, se vestem como personagens de seriado americano e passam horas em frente ao computador. 

Ouvindo a letra de várias músicas desse tipo de festejo, quem tem o mínimo deinteligência vai perceber a incoerência. Uma das músicas mais tocadas nestes festejos é Asa Branca, de Luiz Gonzaga. Leia o trecho inicial da letra e veja se está de acordo com a realidade das pessoas que vivem na zona urbana e declaram "importante" manter a "cultura" dos festejos juninos:

Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

E aí, burgueses e simpatizantes: há terra ardendo dentro de seus condomínios fechados? Vocês ainda usam braseiro, fornalha? Pé de plantação? Aonde? Alazão é quem? A picape enorme guardada na garagem? Picape morre de sede? E falta água todos os dias em condomínios de luxo?

Não sei porque justificar a manutenção dos festejos juninos com motivos "culturais", se a cultura das letras, danças, roupas, comidas e outras coisas típicas de festejos juninas nada diz a respeito do cotidiano das zonas urbanas. Na boa, festa junina é pura diversão apenas, sem esse negócio de cultura ou outros argumentos "sofisticados".

Temos que parar de justificar hábitos tolos com justificativas nobres. Até porque hoje em dia, valorizar a cultura saiu de moda. O que interessa mesmo para a maioria e passar o tempo, espairecer e fugir da rotina. E é para isso que serve os festejos juninos: para quebrar a rotina urbana se fingindo de caipira falso, bem estereotipado, daqueles caipiras que nem os caipiras de ontem e muito mensos os de hoje conhecem. Um tipo de caipira que só existe nos livros e nas comédias de Mazzaropi.

As festas devem existir, mas como pura diversão, sem o propósito de conservar uma cultura que já não é real, nem para o contexto da época, muito menos para o contexto de lugar.

Diversão é diversão. É farra pura. Na maior parte dos casos, nada tem a ver com cultura, que é a transmissão de conhecimento. A diversão sempre é válida, desde que não se arrume funções "edificantes" para ela, travestindo de falsa cultura. Essa confusão irrita.

Já basta a ausência da verdadeira cultura, morrendo aos poucos nestes últimos anos.

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