Novidade não é qualidade

Por Marcelo Pereira

"O novo sempre vem", é um ditado muito frequente na boca de quem defende qualquer novidade como sinal de avanço. Para elas, tudo que é novo sempre é melhor que o anterior, independente de suas características ou das consequências de sua existência. "Se é novo, é melhor", é o que acreditam.

Esse é um pensamento muito arraigado entre os brasileiros e não por acaso faz parte da ideologia positivista de Auguste Comte, o autor do lema "Ordem e progresso", que ilustra a nossa bandeira.

Mas não é um conceito correto, tanto é que a ideologia de Comte é frequentemente criticada. A lógica não impede que algo ruim surja depois de algo bom. A cultura provou que o retrocesso qualitativo é possível, já que nenhuma das décadas posteriores conseguiu se igualar à década de 60, a melhor década cultural de toda a história da humanidade.

O século XXI, que em previsões futurísticas mais antigas prometia ser bem avançada, gera atualmente uma imensurável decepção, já que o mercenarismo faz com que quase tudo piore drasticamente para favorecer lucros financeiros que sejam ao mesmo tempo fáceis e garantidos. 

Quase tudo, da política ao entretenimento, passando pelo sistema de transporte e até das relações humanas do cotidiano, tem se notado uma queda de qualidade assustadora. Até a mentalidade das pessoas tem se atrofiado, com indivíduos cada vez mais crédulos (a retomada da força religiosa é uma prova disso) e menos racionais, consagrando conceitos equivocados sobre qualquer coisa e fazendo da mídia televisiva a grande tutora da humanidade, sobretudo no Brasil, terreno propício para qualquer forma de dominação. A submissão da população brasileira à mídia é algo inacreditavelmente grande e imbatível.

E esses equívocos fazem com que qualquer novidade seja vista como "avanço", mesmo sendo, na prática um retrocesso. Claro, a população brasileira não verifica, para tentar confirmar ou negar se algo é realmente benéfico ou nocivo. Acostumada a credulidade aprendida com as religiões, acredita em tudo que chega as suas mãos, enxergando apenas benefícios em qualquer novidade que esteja a sua frente.

É preciso aprender que infelizmente vivemos numa espécie de "Idade Média" brasileira, uma época de trevas onde as tradições sociais e a mídia regem os costumes e o modo de pensar dos indivíduos que, embora nunca assumam, perdem a sua personalidade e elegem qualquer novidade como salvadora dos problemas que insistem em nunca terminar. E a crença nestas novidade acaba por piorar ainda mais os problemas estabelecidos, muitas vezes acrescentando novos problemas para se acumular junto a estes.

Temos que parar com essa ideia de que "é assim porque a modernidade exige". Nada é moderno hoje. A modernidade acabou em 1969. O que temos é uma pós modernidade nociva e equivocada. Quiseram mudar o que já estava bom, com a desculpa esfarrapada de "melhorar" que aconteceu o contrário.

Com a consagração de erros, fica difícil qualquer conserto. Mas admitir que nem tudo aquilo que tem o rótulo de "novidade" e nem qualquer uma das "tradições" é benéfico, já é um avanço. Pois devemos lembrar que épocas não são atestados de qualidade para nada. Velho ou novo, algo é apenas velho ou novo, sem a obrigação de ser bom ou ruim.

Se as pessoas usassem mais o raciocínio e verificassem as coisas, talvez pudéssemos ter alguma esperança de evolução social. Pois se continuarmos com essa fé cega em tudo que a mídia e as tradições sociais nos dizem, vamos ficar presos no mundo de hoje, com todos os defeitos, problemas e injustiças que temos direito e não haverá novidade nenhuma que nos salve das mazelas geradas pelo erro grave de negarmos a nossa capacidade de raciocinar.

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