Porque eu gosto de música erudita


Por Marcelo Pereira

Costumo criticar a baixa qualidade das músicas popularescas e do hit-parade americano com razão. Não é por ódio subjetivo, pois não odeio ninguém. É porque tenho o ouvido apurado e uma intuição e percepção artística que consegue ver limitação artística nos astros que fazem muito sucesso.

A lógica não impede que um medíocre cantor de chuveiro venda muitos discos e seja adorado por uma multidão. Basta divulga-lo incessantemente e fazer um bom marketing.

Aí, vem os defensores dos ídolos medíocres, leigos em arte, que medem a qualidade musical pelo sucesso, me esculhambar, dizendo que sou eu que não entendo de música. Muitos até acusando de preconceito. Imagine se eles soubessem que eu gosto de música erudita.

Mas não aquela música "erudita" de elevador, como as orquestras de bailinho do tipo Ray Coniff, Paul Mauriat, James Last e quejandos. Essas orquestras representam a mediocridade feita para quem quer posar de culto. Dizem que os músicos dessas orquestras fajutas são na verdade músicos reprovados em grandes e legítimas orquestras. Quando eu falo de música erudita é música erudita mesmo, erudita, tocada por orquestras de verdade, com formação musical de base intelectual.

Apesar de adorar música erudita, ainda me considero leigo, pois ainda não tive a oportunidade de conhecer realmente sobre os sub-gêneros e a historiografia dos compositores.

A música erudita soa monótona para muita gente (inclusive meu irmão Alexandre, que não gosta desse tipo de música), porque exige uma atenção maior, até mesmo um certo ritual para ser ouvida. Os arranjos e melodias são detalhados demais para serem ouvidos a qualquer momento, lavando um carro, por exemplo. Conversar em cima, nem pensar. Quer conversar em cima das músicas? Recomendo uma "boa" axé-music. Pelo menos as besteiras ditas nas letras imbecis do estilo não serão percebidas.

Música erudita é para ser ouvida em obras completas, como também deveria acontecer no rock progressivo ou nos álbuns conceituais dos anos 60. Pega-se um álbum para se ouvir inteiramente, para ouvir sem pular, direto.

Voltando aos defensores da música medíocre: ao perceberem que gosto de música erudita, as acusações de elitismo estarãosendo lançadas sobre mim. Isso ocorre porque os defensores, com raciocínio escasso e informação cultural limitada ao que chega até eles através das emissoras populares de rádio e de TVs, vivem confundindo "ser inteligente" com "ser rico" e "ser burro" com "ser pobre", se esquecendo que tem muito rico burro e pobre sabio. O que critico na música medíocre é puramente a qualidade musical, que não se mede através de roupas e classe social. É meio difícil falar sobre qualidade musical na música erudita para qualquer pessoa (eu mesmo não entendo, pelo menos os termos formais), mas entenda-se como boa combinação do arranjos e a utilização adequada dos intrumentos, além da fartura de melodias.

Por mais que seja criticado por isso, não vou deixar de curtir a verdadeira música erudita. Ainda mais que o Teatro Municipal do Rio de Janeiro está retomando suas atividades. Nada como ouvir uma excelente orquestra tocar.

Sugestão de obras

Algumas obras que conheço e gosto, que podem servir de ponto de partida para quem quer começar a curtir música erudita. Atente-se que os responsáveis pelas obras são os compositores, e não os intérpretes, na maioria dos casos, já que não se gravava som no tempo deles:

Hallellujahh, de Haendel;
Midnight Summer's Dream, de Mendelssohn (tem a famosa Marcha Nupcial dos casamentos - que chato!);
Sonata n°11 de Mozart (que inclui o Rondo Turco que tanto me serviu como ringtone em meu antigo celular);
The Planets, de Holtz (contemporâneo)
As Quatro Estações, de Vivaldi;
Peças Sacras, de Bach (que faz aniversário junto comigo, em 21 de Março);
Gimnopédias de Satie (esse é mais contemporâneo);
Peer Gynt, de Grieg;
Cântico da juventude, de Stockhausen (outro contemporâneo - pai da música eletrônica e influencia maior na fase inicial do Kraftwerk, minha banda de kraut rock favorita - nete caso, o intérprete era o próprio compositor, manipulando efeitos, prevendo essa coisa de DJ), já que era de uma época onde já existia gravadores de som.

Dadas as sugestões, uma boa audição de música.

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