A música seria muito melhor se não fosse um meio de ganhar dinheiro


Imagine se a carreira musical não fosse um negócio. Se não fosse um emprego. Se as pessoas não ganhassem dinheiro com música. Repararam que a música seria muito melhor?

Na verdade, o que acontece há mais de 60 anos, ainda mais evidenciado a cada década, é que a música representa uma ótima oportunidade a quem não está disposto a ralar mais para ganhar o seu sustento. É um empregão, onde trabalha fazendo uma atividade leve em troca de muito, muito dinheiro. Não é dinheiro para sobreviver apenas, é dinheiro para ficar rico e rir da cara dos outros profissionais que ganhar muito menos trabalhando bem mais.

Claro que a carga horária de quem se envolve com música não é a mesma da maioria dos profissionais, mas eu pergunto: se é para ficar 40 horas semanais trabalhando, o que você prefere? 40 horas semanais cantando ou 40 horas semanais carregando pedras pesadas? Tenho certeza que todo mundo sabe a resposta.

E porque estou dizendo isso? Porque a música, senso um negócio, uma fonte de renda, atrai muita gente sem vocação, sem talento artístico (não confundir com talento midiático, de saber trabalhar com a mídia) e sem informação cultural que de repente colocou na cabeça que queria virar artista.

Essa turma há muitas décadas ensinou errado a muita gente como é que se faz música, criando o que o escritor e pensador Umberto Eco chama de canção de consumo,que chamo de música de mercado, uma definição real que a maioria das pessoas desconhece, apesar de só conhecer realmente as músicas que se encaixam nesse rótulo.

Para muita gente, a canção de consumo é a "canção verdadeira". Para elas, que, desconhecendo a verdadeira música, cada vez mais ausente da mídia, mas conhecendo o conceito, adota aquilo que lhe chega aos ouvidos, a canção de consumo, como se fosse a música de verdade. Como se um produto criado pelas empresas de entretenimento fosse na verdade um poeta que cria suas canções espontaneamente, sentado embaixo de uma árvore num jardim florido. É adotar o bastardo como legítimo.

E se não fosse um meio de renda, a música seria melhor. Claro. Pois apenas os verdadeiros artistas se dedicariam a tal função. Apenas quem tem algo realmente a dizer, sem a interferência de empresários, produtores, mídia, fazendo as coisas espontaneamente, sem seguir padrões ou lançar modismos, favorecendo uma real diversidade musical, algo impossível numa cultura de mercado.

E aí muita gente com reputação prestigiada, como os produtos do pop americano e os popularescos do Brasil não existiriam. Seus ídolos estariam em outros empregos, pois não estariam interessados em fazer aquilo que não está em sua vocação se isso não fosse uma fonte de renda. Nos livraríamos por exemplo, de gente como Michael Jackson, que é o símbolo maior da música de mercado, embora tratado como uma espécie de "intelectual da música" por aqueles que não conhecem o processo de fabricação e difusão de um ídolo, um produto musical. Algo que acontece às escuras, nos escritórios de gravadoras.

Infelizmente a música de mercado é uma realidade. E ela é cada vez mais hegemônica, até mesmo tirana, chegando a tomar o lugar, na marra, da verdadeira música, que desaparece silenciosamente sem que a grande massa perceba, já que esta ficará ocupada com as ilusões oferecidas pelos produtos musicais que acredita ser a "arte pura e verdadeira", pois é o que a mídia permite que chegue ao seu ouvido.

Mas que a música seria muito melhor se não fosse fonte de renda, seria. Não teríamos produtos, já que estes estariam ganhando dinheiro de outra maneira.

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