A morte de Hebe e o fascínio dos brasileiros pelo entretenimento

Não se falava em outra coisa. O assunto de ontem com certeza foi o falecimento de Hebe Camargo, a mais importante figura feminina entre os apresentadores da televisão brasileira e testemunha da instalação das primeiras emissoras de TV em nosso país.

Hebe era uma apresentadora sem igual e continuava com impressionante lucidez e jovialidade até se calar definitivamente às 10 da manhã de ontem, numa parada cardíaca ocorrida durante o sono. Ela que alegrou a todos, faleceu sem sofrimento. Vai fazer falta.

Mas aproveito a oportunidade para refletir sobre o porque dos brasileiros só se comoverem com as mortes de artistas, esportistas ou pessoas ligadas apenas ao entretenimento. Quando raro, políticos conhecidos fogem dessa regra. Mas triste, para a maioria, só a morte de pessoas ligadas à diversão.

Os brasileiros são fascinados pela diversão.Brigam, matam e sofrem por causa da diversão. Não abrem mão de qualquer erro ou futilidade que os divirta. O fascínio pela diversão é tanto que os brasileiros, em sua maioria, enxergam na copa de 2014, um evento de futebol, a redenção da humanidade: como a chegada de um messias, no caso, a própria copa. Como veem, diversão é a razão de ser para os brasileiros, moradores do "quintal" do mundo.

E é este fascínio pelo entretenimento que faz com que os brasileiros só consigam dar importância a pessoas responsáveis pela distração da população, dando ao lazer um caráter de primeiríssima necessidade, mais até do que a qualidade de vida, pois grande parte da população prefere continuar vendo esgoto nas janelas de sua casa desde que, por exemplo, consiga ver um jogo de seu time favorito, que faz com que se comovam bem mais com entertainers, como se a diversão fosse algo para ser levado a sério, como se tivesse a importância de segurança nacional.

Divulgação insistente da mídia aumenta a comoção

Brasileiro não é de se comover muito a não ser quando estimulado a isso. E a mídia sabe como conseguir provocar lágrimas nos olhos dos brasileiros, que só amam quem lhes dá benefícios e cujo senso de moral é dado pelas religiões, defensoras dos absurdos.

Para que os brasileiros se comovam com a morte de alguém, além da figura ser de conhecimento midiático maciço, famosos entre a maioria esmagadora da população, a notícia de sua morte deve ser difundida de maneira novelesca e carregada de pieguice e elogios exagerados, como se o falecido em questão fosse muito mais importante do que realmente era. É quase como uma canonização oficiosa.

Isso não acontece com mortes de pessoas realmente importantes como intelectuais, cientistas e profissionais realmente envolvidos com a qualidade de vida da população. Num ato de verdadeira ingratidão - ou alienação mesmo - profissionais sérios morrem normalmente esquecidos, lembrados apenas por poucos que já conheciam o seu trabalho. Mesmo famosos, intelectuais não costumam despertar comoção das pessoas, até porque o seu racionalismo costuma espantar a emotividade das pessoas, numa sociedade que não admite o equilíbrio entre razão e emoção, preferindo ficar, umas de um lado, outras de outro.

A morte de alguém ligado ao entretenimento comove mais, pois a diversão é facilmente associada a emoções cotidianas e fica mais fácil para alguém se sensibilizar com alguma coisa que aconteça com esta celebridade.

A morte de Hebe, assim como outras que aconteceram e que acontecerão, reflete bem essa realidade do brasileiro, pouco afeita aos seus benfeitores, mas completamente fascinados com a magia supérflua dos mestres do entretenimento, surgidos apenas para distrair as massas.

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