O Céu ou o Inferno

Brasileiro adora padrões, rituais, líderes, regras ou qualquer coisa que lhes dê uma ilusão de organização. As regras nem precisam ser úteis ou justas, bastam existirem para darem a ilusão de que tudo está em ordem.

Na vida afetiva também é assim. A sociedade brasileira estipulou que o processo que resultaria no início de qualquer relacionamento deveria seguir um ritual e algumas regras. Falam muito que no amor não existem regras, mas na prática a coisa não é bem assim, não. Tente conquistar alguém sem seguir regra alguma para ver no que dá.

Interessante que em todo o país as regras são absolutamente as mesmas. Não há sequer uma variação. A maneira de se conquistar uma mulher é exatamente uma só, do Arroio ao Chuí. E  não venham com o papo de que é biológico, pois o ser humano é racional o suficiente para não se prender a padrões. Creio ser mesmo submissão televisiva, pois a televisão é a legisladora e reguladora oficial dos costumes sociais por todo o país. Se não fosse, os costumes sociais em cada região seriam bem diferentes de outras regiões. 

E dentre essas regras (que são estipuladas pelas mulheres) de conquista está incluída a do lugar de paquera: onde as mulheres estarão intencionalmente  receptivas para o início de algum relacionamento. E é aí que a porca torce o rabo.

Para quem não tem a sorte de poder conquistar uma vizinha, uma colega de trabalho, de estudo ou de academia (??!!) de ginástica, só restam duas opções: os bares boates e similares ou os grupos religiosos. Ou seja o "inferno" ou o "céu".

O problema é que em ambos imperam a alienação de uma forma ou de outra. Se por um lado, há a promiscuidade lícita dos bares e boates, incluindo o enlouquecimento regado à álcool, nos grupos religiosos há a pieguice e a defesa de absurdos em nome da "fé", num outro tipo de embriaguez que não é gerada pelo álcool e sim pelo medo de um suposto líder fictício (o "Deus" inventado pelas religiões, a imagem e semelhança dos homens). Em ambos os casos, há a fuga da realidade através da alucinação.

Quem não quer nenhuma dessas opções fica a ver navios ou tem que esperar a chance vir através da sorte ou ignorar as regras e partir para o que eu chamo de "paquera ofensiva", algo que a maioria das mulheres raramente gostam e que pode resultar em processo por assédio sexual. para conquistar mulheres sem um esperado "clima", é preciso muita esperteza e capacidade de reverter situações, o que não é para todo o tipo de homem. Um portador de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) como eu, com muita certeza se daria mal numa conquista tentada "na marra", à força.

As regras deveriam existir para organizar e não para limitar à felicidade a uma minoria e impedir o acesso de todos à felicidade real. Devemos parar com essa paranoia de criar regras só por criar, para dar ilusão de falsa organização e falsa segurança. Isso só prejudica os que não se adequam a elas.

A solidão e a depressão resultante desta são consideradas os grandes males deste início de século. Já é notória a falta de amor nos gestos das pessoas. Muitos casamentos se mostram um verdadeiro fracasso. A desconfiança tomou o lugar do afeto. Com toda essa crise afetiva, é melhor repensar todos os nossos costumes e ver se não está na hora de criarmos uma nova "tecnologia" do comportamento, mudando conceitos, hábitos e lutando para que independente do processo utilizado, possamos realmente chegar a felicidade conjugal, satisfazendo a nossa necessidade de afeto, que é o alimento da alma.

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