Rock sem atitude

Este final de semana, o assunto foi a volta da rádio 89 FM ao vitrolão roqueiro (curiosamente ressuscitada no dia do "fim do mundo"), com a mesma equipe e mesmo trato superficial ao rock que fizeram da 89 uma das piores rádios de rock do país, embora muitos pensem o contrário. E pelo jeito está havendo uma falsa renascença roqueira graças a isso, tentando converter uma juventude que há um bom tempo perdeu interesse pelo gênero, trocando pelas breguices que o povão menos abastado e ainda menos escolarizado sempre curtiu.

É nesse cenário de decadência roqueira que a rádio resolve retomar suas atividades. Claro que ela nunca se encerrou, mas desde 2006 estava se dedicando a dance music e a filosofia clubber, verdadeira vocação de sua equipe.

E eis que a UOL, propriedade da conservadora Folha de São Paulo, resolve se tornar sócia da 89 FM, sugerindo a retomada da falsidade ideológica roqueira, para a alegria da criançada que acredita em Papai Noel. belo presente esse, às vésperas do Natal, hein?

E pelo jeito surge uma nova onda roqueira - de mentirinha, é claro! - a culminar com o Rock in Rio de 2013 (razão da volta da rádio), que na verdade é uma gororoba de gêneros, onde rock só existe no nome e na minoria de escalados. Ontem, numa reprise do que rolou na semana no programa Estúdio I, apresentado pela linda, charmosa e deliciosa Maria Beltrão, mostrou uma das "grandes bandas" mais recentes, a Detonautas Roque Clube (futebol de novo, não!), onde o vocalista, excessivamente tatuado, cantou várias músicas de letras tão românticas quanto qualquer uma gravada pelo cantor brega Amado Batista. É desta forma que a cultura rock vai retomar a força?

A 89 FM é um caso de falsidade ideológica. Se afirma como a "rádio rock", mas é administrada por conservadores que nunca gostaram do gênero (detalhe importante: a 89 FM é associada à Nativa FM, de música brega), tendo em sua equipe, locutores e disc jóqueis mais familiarizados com dance music. Apesar da experiência roqueira (como líder da banda engraçadinha Não Religião), o coordenador Tatola (que nome! - isso favorece trocadilhos ofensivos), fala como um clubber, com direito às gírias típicas da tribo. Só faltava ele se vestir de drag queen para ficar perfeito e completar o serviço.

Para piorar, a rádio é claramente jabazeira, ganhando muito dinheiro para tocar qualquer nome. Mas quando não envolve grana, o jeito é puxar o saco da rádio, como fizeram um monte de roqueirinhos ingênuos, com medo do ostracismo e da impopularidade, já sabendo que os jovens de hoje detestam rock, que enviaram um monte de elogios exagerados à rádio de falso ativismo roqueiro.

E com isso surge uma "cultura" rock sem atitude, mas com muita pose, temperada com piercings, tatuagens e muito palavrão, mas sem inteligência, bom senso e respeito cultural. É a obsessão pelo lucro, mercenarismo disfarçado de atitude roqueira e desespero em retomar a face hipócrita de um gênero que se torna a cada dia mais impopular. 

A 89 FM só serve para essa garotada entre 25 e 39 anos que foi facilmente ludibriada por esses clubbers travestidos de rockers. Não sonseguiu agradar nem aos mais novos, muito menos aos mais velhos. Os mais novos, como falei, detestam rock. Os mais velhos, educados em tempos de excelentes rádios como a Federal AM, a Eldo Pop (do saudoso Big Boy, enciclopédia ambulante de jazz, rock e de soul) e a Fluminense FM, usufruindo a sonoridade de grandes bandas, não querem ser ludibriados por esta farsa que trata o rock como se fosse um abacaxi a ser vendido a quilo numa quitanda da esquina.

O rock merece respeito. E não será a 89 FM que dará esse respeito.

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