"Funk" do Roberto é bom por causa da experiência soul do "Rei"

Quando anunciaram que o cantor Roberto Carlos iria aderir ao "funk" carioca, os amantes da boa música, já desgostosos com o "Rei" por causa da má fase criativa iniciada no início dos anos 80, ficaram em polvorosa. O "Rei", responsável por alguns momentos risíveis na citada década, como aquelas músicas feitas para homenagear caminhoneiros e mulheres gordinhas, ia baixar as calças de vez. Nada disso.

Na verdade, foi um factoide. Uma maneira de dizer que o veterano cantor tinha aderido ao modismo, para agradar aos mais jovens. Respirem aliviados. Não só Roberto não aderiu ao nefasto gênero, como é a sua melhor música em cerca de 30 anos. Acreditem, a criatividade do cantor/compositor está de volta, integralmente.

Furdúncio, a música, escrita por ele e seu eterno parceiro, Erasmo, é bem legal (do contrário da tediosa Esse cara sou eu, que puxa o compacto). Mostra um Roberto mais solto, jovial, como se tivesse décadas a menos da idade real. Mostra o "Rei" em seus bons momentos. E tem um motivo.

Antes de explicar porque Furdúncio é boa, uma curiosidade sobre o título é que esta palavra, que é uma gíria antiga para "confusão", só havia conhecido através da minha mãe, da mesma geração etária do cantor. Roberto foi a segunda pessoa que tomo conhecimento a usar a tal palavra.

Voltando à música, ela é boa por um simples motivo: retoma o lado black music que caracterizou a melhor fase da carreira do cantor (1968-1976). Criado na Tijuca e tendo como amigos íntimos Tim Maia e Jorge Benjor, além do "irmão camarada" Erasmo (que provou inúmeras vezes que também leva jeito para a soul music), mestres da soul brasileira, Roberto teve a inspiração e a informação necessárias para criar as suas melhores canções. 

Descontando a minha divergência em torno do dogmatismo religioso (similar ao que já acontece com o Tim Maia da "Imunidade Racional", para mim e para muitos, um dos melhores trabalhos do "Síndico"), Jesus Cristo é para mim uma de suas melhores músicas, por sua letra de rimas perfeitas que se encaixam na melodia forte e sedutora e de arranjos instrumentais muito bem mixados, sendo 100% soul da melhor qualidade. Mas a mesma fase possuí muitas grandes pérolas do cantor, coroando o "Rei" em sua melhor fase.

E Furdúncio é bem soul, lembrando um funk legítimo. Surpreendentemente suingada, ela tem bastante melodia e, como eu falei, mostra Roberto muito bem a vontade. Como alguém que tivesse retornado ao seu verdadeiro lar ("Eu voltei, agora pra ficar"?), a soul music.

Tomara que venham muitos trabalhos soul do "Rei". Se isso acontecer, Roberto terá retomado um novo auge e devolvendo qualidade ao seu trabalho, voltando a lista dos grandes compositores de nosso país e ao mesmo tempo, indicando um novo rumo à música brasileira, hoje em tamanha submissão mercenária.

A soul music brasileira nada fica a dever a original, sendo uma das melhores do mundo. Tivemos verdadeiro gênios como Tim Maia, Cassiano, Hyldon, Black Rio, o hoje ator Toni Tornado (que surpreende por continuar jovem aos 80 anos!) e o subestimado Gilson, entre outros brilhantes nomes do já brilhante gênero. 

Roberto, injustamente ignorado na lista de mestres da soul music brasileira , também contribuiu para a qualidade do soul brasileiro e sua volta ao gênero fará o público esquecer de vez os seus momentos mais fracos e colocará a sua carreira a 120, 150, 200 Km por hora, em um novo e belo rumo. Roberto, volta para o soul, volta! Com Furdúncio, você demonstrou que tem condições para isso!

A brasa ainda queima. Mora, bicho?

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