Justin Timberlake e a consagração da mediocridade

Desde que a contracultura dos anos 60 acabou, a partir dos anos 70, a música vem caindo gradativamente de qualidade. A cultura de verdade hoje foi definitivamente extinta e solenemente substituída pela "cultura" de mercado, criada para dar dinheiro aos envolvidos.

Para chegar a esse objetivo mercantil de lucros garantidos, a mídia, através de gravadoras, produtoras, rádio, TV e agora a  internet, oferece qualquer nota ao público, que hipnotizada pelos meios publicitários, adere feito carneirinho aos sons do momento, incapaz de definir o que realmente é bom ou não.

E como a verdadeira cultura está irremediavelmente extinta, coloca-se a falsa no lugar, mesmo que ela não tenha a vocação para a transmissão de conhecimento que existia na semântica original da palavra "cultura".

Elogios a Justin Timberlake sinalizam consagração da mediocridade

Li em vários sites da internet uma euforia pela retomada da carreira musical de Justin Timberlake, que nesses poucos anos estava envolvido com a carreira de ator. Carreira que ele poderia muito bem se dedicar mais, pois demonstrou ser um ótimo ator. Na música, não se pode dizer o mesmo.

Timberlake é um menudo. Veio do grupo N'Sync, uma espécie de "descendente" dos New Kids on The Block (que estranhamente retomaram as atividades, mesmo estando a beira dos 50 anos - já imaginou um bando de velhinhos grisalhos e barrigudos fazendo aquelas coreografias bobas? Mais ridículo, impossível).

Por mais que Timberlake capriche (há uma musiquinha legal dele, que lembra Jamiroquai - até o clipe copia o estilo do grupo de soul britânico), ele é um cantor comercial. Canta para ganhar dinheiro. Como 99% do que a gente ouve hoje em dia. E para ganhar dinheiro é preciso fazer com que as massas se interessem por um tipo de som que possa ser padronizado nos escritórios de gravadora. Não espere dele nenhum acréscimo na cultura mundial até porque ele não foi feito para isso.

Timberlake é diversão pura. É  para dançar alguns minutos e só. Achar que a cultura mundial irá enriquecer com a presença dele e de muitos outros produtos de gravadora é no mínimo ter falta de conhecimento musical. É não conhecer o que está por trás dos bastidores das gravadoras e produtoras. E não pensem que "bastidores" se referem a vida pessoal do cara (como sugere um nome de um quadro sobre "bastidores" axé-music na TV baiana, mas que só fala da vida particular dos cantores). 

Muita coisa é feita para que uma música possa fazer sucesso e transformar o seu responsável (que quase sempre não é o seu criador, embora assuma publicamente como tal) em ídolo máximo, muitas vezes um guru que "orienta" o comportamento de seus súditos. Foi assim há cerca de 60 anos e continua cada vez mais forte.

Entretenimento disfarçado de falsa cultura substitui a verdadeira, que não existe mais

A cultura verdadeira esclarece, educa. O entretenimento só diverte. A cultura verdadeira teve que ser morta para que a humanidade permanecesse no atraso que faz com que as elites lucrem e tenham poder. Povo educado é povo indomável.

Mas como tem que se enganar a população que adora posar de inteligente e conscientizada sem ser de fato, ao invés de declarar a morte da cultura, coloca-se a falsa no lugar e transforma meros "bobos da corte" em "gênios intelectuais" da música. Fizeram isso com Michael Jackson, mero entertainer e fazem com muitos outros. Como se simples passos de dança pudessem educar a humanidade.

E a existência desses falsos gênios tranquiliza a humanidade sem discernimento que acredita apenas em aparências e posturas, se esquecendo da essência, que se fosse percebida, colocaria as coisas no seu devido lugar, desmascarando os falsos gênios que nada mais fazem além de divertir as pessoas.

Entretenimento de hoje é pior do que o entretenimento de antes. E tende a piorar ainda mais

A razão de eu estar escrevendo este texto, como falei, é a empolgação que a mídia, sobretudo a ingênua mídia brasileira, está demonstrando com a retomada de carreira de Jusitin Timberlake. A impressão é que para estes ingênuos, a volta de Timberlake vai mudar os rumos da música, dando um ganho de qualidade. Falso.

E o pior não para aí. Um blogue que se assume "nerd" sem ser, se animou ainda mais quando soube que o participante do novo sucesso de Timberlake seria... Jay Z. Assim como muitos outros que se parecem com ele, Jay Z é da geração que destruiu o hip hop com aquelas musiquetinhas monótonas e rap robotizado (que nada tem a ver com o rap original tipo Sugarhill Gang e Grandmaster Flash, dos tempos do bom hip hop) e que ganha muito dinheiro com isso, chegando a monopolizar o hit parade americano, obrigando cantores de todos os gêneros a incluírem um babaca fazendo rap no meio da música.

Só que Jay Z tem um ego bem inflado, assumindo uma postura de "gênio" que ele não demosntra na prática. Gênio do hip hop, para mim é Afrika Bambaataa, é Kurtis Blow, é Beastie Boys (salve, Adam Yauch!). Na verdade, o grande mérito de Jay Z é metralhar (na linguagem da tribo dele) os outros homens de inveja por ter aquela gata linda e gostosa da Beyoncé totalmente a sua disposição. Para isso é que Jay Z serve (assim como Timberlake matou e continua matando os fãs de Jessica Biel de inveja). Sorte no amor é privilégio para poucos.

Voltando a Timberlake,na melhor das hipóteses, será mais um disco a dar muito dinheiro a gravadora que o contratou. E também munição para as festas noturnas regadas a muita bebedeira e várias emoções baratas.

Timberlake é bom ator e deveria se dedicar mais a este ofício. Na música, apenas uma oportunidade de ganhar muito dinheiro às custas do requebrar de muita gente que não sabe realmente o que fazer nas noites dos finais de semana. Se for só essa a intenção de Timberlake, missão cumprida.

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