Obras portuguesas dubladas em português brasileiro: um absurdo!

A mania de colocar dubladores para usarem aquelas irritantes vozes de desenho animado para possibilitarem o entendimento de filmes, séries e documentários, está virando uma praga doentia que já infectou a programação da televisão paga. 

Mas o pior ainda estava por vir e veio: a dublagem em português tupiniquim de obras portuguesas. Isso mesmo que você ouviu: a dublagem em português de obras faladas em português - lusitano, mas português. É o que acontece com a série Equador, transmitida pela TV Brasil (ex-TVE) e já aconteceu com um seriado juvenil que passou na Band. Um absurdo!

Argumentam os defensores dessa medida tola que o sotaque falado nas terras lusitanas é difícil de entender. Mas aí eu pergunto: não seria melhor educar o ouvido brasileiro a aprender a ouvir lusitano? O povo brasileiro é burro demais para não entender as variações de seu próprio idioma?

Vocês acham que na Inglaterra, os programas produzidos nos EUA, levando em conta o fato de que os falantes da terra de Tio Sam também "falam complicado", são dublados para serem assistidos pelos britânicos, de fala mais clara? Claro que não! Nenhum britânico está disposto a ouvir, por exemplo, o Ashton Kutcher contar suas piadas em Two and a Half Man com voz de lorde. Até porque todo mundo sabe que piadas perdem o sentido - e a graça - quando são dubladas.

Eu achei o cúmulo da ignorância. Por mais difícil que seja, dá para entender o que os lusitanos falam. Quando personagens de novela brasileira falam enrolado, ninguém se dispõe a dublá-los.

Isso chama-se de nivelar por baixo, de estimular a ignorância do povo brasileiro, já desacostumado a raciocinar e que na hora do lazer costuma aposentar o cérebro, acreditando ser este um instrumento exclusivo de trabalho e de estudo.

Além de que é uma ofensa grave tanto aos portugueses - que merecem ser ouvidos - quanto aos brasileiros - os brasileiros não-burros não gostam nada de serem chamados de incapazes de entender o português lusitano.

Eu tive o prazer de conversar recentemente com uma senhora portuguesa sobre a conservação da limpeza nas cidades e consegui entender direitinho o que ela falava. Pra quê dublar se o idioma, mesmo com suas variações, é absolutamente o mesmo?

É um enorme retrocesso dublar obras portuguesas. Eu quero ouvir a voz original de nossos irmãos de língua, nossos amigos e representantes desse povo adorável que ainda tem muitas coisas boas para nos mostrar e que não conhecemos. Já é chato ignorarmos boa parte de sua cultura, vamos ignorar também a sua voz?

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