Oe melhores nomes da música na pior década

Hoje estamos vivendo uma espécie de revival dos anos 90. A década que prometia ser uma preparação para o futuro se mostrou um desastre e construiu essa arruinada cultura que conhecemos hoje, cada vez pior, menos espontânea e menos criativa e mais mercenária e mais ilusória. Os anos 90 definitivamente representaram a pior década cultural de todos os tempos, desde que o homem é homem.

Mas como toda regra tem exceção, os anos 90 também tem as suas coisas boas. Se lembrarmos que a década, de fato começou em 1993 (há 20 anos), não vale a pena falar sobre o que surgiu antes, já que até 1992 a mencionada decadência cultural não havia dados sinais de existência ainda. Portanto tomemos os exatos 20 anos como ponto de partida.

E vou me limitar a comentar sobre a música estrangeira. Não mencionarei os poucos brasileiros bons porque muitos deles acabaram, mesmo mantendo a qualidade de sua sonoridade, virando entusiastas (ou puxa-sacos?) de toda a decadência musical que se torna crescente hoje em dia, já que os intérpretes medíocres é que tomaram as rédeas daquilo que quase todos (menos eu) entendem como "cultura", atualmente.

Começando com o grunge. Ninguém entendeu o grunge, nem quem gostou e nem quem detestou. Na verdade, a sonoridade crua das bandas nos primeiros anos se mostrou, mais tarde, aperfeiçoável. Os sobreviventes que seguem até hoje, já fazem uma sonoridade mais bem acabada, sem aquela coisa do "barulho por si só", do início. Até mesmo o Nirvana, encerrado por causa da morte de seu líder Kurdt Cobain, deu sinais de aperfeiçoamento no acústico gravado para a MTV (e que tenho em DVD). Se Cobain não tivesse se matado, o Nirvana seria uma grande banda. O que observamos claramente na sua banda-filha, o Foo Fighters, liderada pelo baterista do Nirvana, Dave Grohl, multi-instrumentista convertido em principal guitarrista e vocalista da banda-filha.

A Foo Fighters se tornou uma das melhores bandas da atualidade e melhora a cada álbum lançado. Preferiu uma sonoridade que unisse a melodia dos Beatles (de quem Grohl é fã fanático) com o rock feito nos anos 70. Lembra muito o que a banda setentista Badfinger (apadrinhada pelos Beatles) fazia naquela década e que é conhecida como power-pop, um tipo de música altamente melódico, mas com a crueza do rock básico. Isso explica a excelente qualidade sonora da Foo Fighters. Palmas para do Dave Grohl!

Aliás, falando em Beatles, o Foofighters cumpre o que a Oasis só promete. E isso não diminui a Oasis, outra grande banda de uma década perdida. Se na prática há pouco Beatles, bem menos do que há na teoria, sobram influências de grandes bandas na sonoridade da banda dos irmãos Gallagher.

Este fato é pouco comentado, mas a banda Oasis, na verdade é um grupo retardatário de um grande movimento de rock britânico surgido na segunda metade dos anos 80. Bandas como Wedding Present, Wonder Stuff, Sundays, House of Love, Bodines, Big Dish, Blur, The LA's e Ride (que cedeu Andy Bell para tocar no Oasis), fazendo a mesma sonoridade desta última. É uma safra excelente de bandas claramente influenciadas na segunda metade dos anos 60, com melodias riquíssimas e letras inspiradas.

A Oasis, que não precisava de factóides de brigas entre os irmãos que disputavam a liderança da banda, pois havia talento musical que dispensa propagandas esdrúxulas, segue essa linha, acrescentando influências de bandas como Kinks e The Who. Dos Beatles, apesar da suposta fama de "cópia xerox", pegou muito pouco, se assemelhando mais com o The Who, banda favorita de Noel Gallagher. Coma divergência entre os irmãos, houve racha. Noel segue com uma banda que leva seu próprio nome e Liam ressuscitou o Oasis com outro nome, Beady Eye. Ambos mantem a excelente qualidade sonora consagrada com a Oasis.

A "filha" de Laura Nyro

E não é só as bandas que se destacam na tentativa de tirar a década do monopólio de mediocrização. Uma cantora, pianista e compositora se destacou por tentar tirar os anos 90 da mediocridade: Tori Amos, uma norte americana radicada na Inglaterra e cuja sonoridade e modo de cantar lembram e muito a Laura Nyro.

Nyro, foi uma cantora norte americana falecida no final da citada década e que apesar de desconhecida, foi bastante influente para muitos artistas como o músico e produtor Todd Rundgren (que descobriu as bandas de new wave Sparks e XTC), Elton John e a própria Tori Amos. Foi por causa de Tori Amos que conheci Laura Nyro e consegui entender o porquê da grande qualidade musical de Amos ( e virei fã de ambas, minhas cantoras favoritas). Para se ter uma ideia, sou capaz de comprar um CD de Tori Amos sem ouvir, com a certeza de que será bom. Tenho quatro álbuns dela em CD e não tenho mais porque são difíceis e muito caros.

Descrever a sonoridade de Amos é complicado. O que se pode dizer é que é altamente melódico, sedutor e comovente. Amos canta com a alma e seu talento (herdado de Laura Nyro) não é visto no padrão "Whitney Houston" considerado pelos que desconhecem a verdadeiro cultura como o padrão das "melhores cantoras do mundo". Pura falta de informação e senso artístico. Amos dá chinelada feia em cantoras desse tipo.

Alunos seguidos pelo professor

Voltando ao grunge, uma banda que tem avançado muito em qualidade musical é a Pearl Jam. De início eu nem me empolguei com a banda. Mas aconteceu com ela uma coisa bem peculiar, raramente vista em outras bandas: não só decidiu aperfeiçoar seu som, como contou com o apoio de sua maior influência.

Mantes antes, vamos às preliminares. Pearl Jam foi uma banda altamente influente em sua década. Não vou detalhar a complexa biografia porque vou ter que me alongar muito. Mas nos anos 90 todas as bandas queriam copiar o Pearl Jam. Houve até uma que surgiu como uma xerox, a Stone Temple Pilots.

A Stone Temple Pilots que, quando desistiu de imitar o PJ e fazer sua própria sonoridade, se revelou outra grande banda da década, lançando álbuns clássicos e transformando Scott Weiland, seu líder, num grande criador de grandes canções de rock. Weiland se demonstrou tão talentoso (teve um álbum solo merecidamente elogiadíssimo), a ponto de tirar os integrantes saídos da farofenta Guns'n'Roses da mediocridade tradicional estimulada pelo canastrão poser Axl Rose, através do excelente Velvet Revolver, que mais parece uma banda dos anos 70 que viajou na máquina do tempo. Weiland conseguiu fazer com que os ex-gunners forem perdoados pelos erros cometidos na banda farofa do ególatra Axl.

Voltando a banda de Eddie Vedder, todos queriam ser o Pearl Jam. Até mesmo boy-bands usavam o visual e copiavam os trejeitos vocais de Vedder. Este, cansado de tantos imitadores, mudou o seu modo de cantar e assumiu de vez a influência já visível do canadense Neil Young, um dos grandes mestres do rock de protesto. E aí que o improvável aconteceu, com mestre se convertendo a aluno de seus alunos.

A via foi de mão dupla, pois Young assumiu fã de Pearl Jam e de Nirvana e além de colaborar coma primeira em vários projetos e concertos, resolveu fazer a mesma sonoridade em seus álbuns mais recentes, admitindo ser influenciado pela banda que ele influenciara. E a boa música ganhou muito com isso pois Young rejuvenesceu seu som (sem trocadilho com o sobrenome do velho canadense) e o Pearl Jam ganhou maturidade, se tornando uma banda de rock clássico em plena d´pecada de 90.

O cometa que emprestou beleza à música

Outro grande nome dos anos 90 veio feito um cometa. Desapareceu da mesma forma como surgiu, mas surpreendentemente fazendo uma música criativa e de altíssima qualidade, influenciado nas músicas mais melódicas dos anos 80 e 70 e sobretudo em Todd Rundgren (tem dedo de Laura Nyro nisso?), citado ainda nesta postagem: New Radicals.

Os New Radicals eram liderados pelo cantor, multi-instrumentista e produtor Gregg Alexander e seu único álbum Maybe you've been brainwashed boo, era uma coisa nunca vista na década de 90. Músicas altamente melódicas, com arranjos e mixagem perfeitos e letras de protesto sincero (embora muito criticado por isso na época, graças ao predomínio de letras imbecis mais aceitas desde então), fugindo de qualquer padrão midiático. Triste em ser o único nome de qualidade de então, Alexander decide encerrar as atividades da banda e se limitar a ser um produtor e engenheiro de som para outros artistas. Triste fim para uma excelente ideia.

E com isso segue-se a mediocridade dominante, rejeitada por alguns bons nomes (a geração pós Strokes que o diga) que como os citados nesta postagem, seguem discretamente em nome da qualidade musical imperceptível pelas grandes massas, muito mais interessadas em algo que possa servir de fundo para as bebedeiras rotineiras de todos os finais de semana.

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