Todos querem se divertir como "peão". Trabalhar como "peão", ninguém quer...

Toda vez que passo perto do supermercado Pomar, localizado na Rua 5 de julho, no Jardim Icaraí, Niterói, penso sobre o assunto. Há um bom tempo esta placa está colocada na frente do supermercado, com letras bem grandes e estrategicamente colocado para chamar a atenção. E a placa continua lá. Até hoje.

Se a placa continua lá é porque ainda não apareceu algum interessado para ocupar a vaga descrita. Por ser uma profissão mal remunerada, pesada, estressante e acima de tudo, desprovida de prestígio social, nenhuma alma aparece disposta a pegá-la. Nem mesmo numa sociedade cada vez mais burra e alienada. Se os alienados não querem esta vaga, sou eu que vou querer?

Tenho notado que as funções menos prestigiadas estão sendo ocupadas por gente cada vez  mais pobre e menos escolarizada ( e não necessariamente mais burra - inteligência não vem de escola mas do discernimento desenvolvido por conta própria). isso não é sinal de que a sociedade está melhorando, pelo contrário, já que muita gente que recusa esse tipo de vaga é tão ou até menos inteligente do que quem se se propõe a aceitá-la. Vejam só, a sociedade brega, que tem nojo de intelectualidade, que quer se divertir como "peão", não quer trabalhar como "peão".

O mercado de trabalho encasquetou que todo mundo deveria fazer nível superior para ter direito a vida digna, desprestigiando as profissões de nível médio e básico e aumentando monstruosamente a concorrência pela entrada nas faculdades, de gente sem vocação para tal. Isso tem gerado uma aberração cultural que tem arruinado toda a sociedade.

É uma verdadeira hipocrisia social. Na hora da diversão estamos cansados de ver: riquinhos lindinhos falando gíria de pobre, ouvindo música de pobre, odiando música erudita, desprezando intelectuais, e o principal: se recusando a raciocinar. Todos querem construir réplicas de lajes de favelas dentro de seus condomínios de luxo, com direito aquelas musiquinhas horríveis que irritam qualquer ouvido sadio. Mas na hora de pegar em uma enxada, todos fogem. Todos querem ser "dotô".

E aí vemos aberrações como, por exemplo, as "Chopadas de Medicina", "de Direito", que servem como um bom exemplo de "Dotôs" que se divertem como "peões", de cara bem cheia e gestos bastante ridículos. Festas como essa soam como verdadeiras contradições ao prestígio normalmente atribuído a profissões como esta.

Legal ganhar salário e prestígio de "dotô", mas agir feito doutor de fato durante o lazer é chato, não é? Chato ter classe, linha e sobretudo inteligência durante os horários de lazer, pois para eles o cérebro cansa. Bom mesmo é torrar o gigantesco salário de "dotô" em uma festa tipicamente ralé, esdrúxula e cheia de gente ignorante pagando mico, dando nome a isso de "felicidade".

A sociedade está cheia de advogados, médicos e engenheiros que, na hora do lazer, se comportam bem pior do que qualquer trabalhador braçal. Aliás, conheço muitos trabalhadores braçais que dão show de classe e inteligência a esses "dotôs" metidos, que não sabem o que fazer com o prestigio e o dinheiro que tem de sobra. Não seria melhor esses "dotôs" trabalharem como "peões" e deixar as vagas de faculdades e de escritórios ou consultórios para quem realmente está preparado para ter nível superior?

De que adianta você se matar para entrar em uma faculdade, trabalhando numa profissão prestigiada, se você não se prestigia como ser humano, achando que seu intelecto deve se limitar ao trabalho, agindo, no lazer, de forma bem oposta ao que seu prestigio profissional diz afirmar? Não adianta.

O resultado está aí, faltam empregos para "dotô" e sobram os de "peão". Vai acontecer a longo prazo uma inversão de valores, pois os trabalhos de "peão" são tão importantes do que os trabalhos de "dotô" (a diferença se dá apenas pelo tipo de formação), mas a pouca procura pelos de "peão" poderá fazer com que estas funções passem a ser melhor remunerada para compensar a falta de prestígio que acaba por espantar uma demanda cada vez mais metida, achando que um simples pedaço de papel conhecido como "diploma" irá lhes dar a inteligência que não conseguem desenvolver por vontade, coragem, discernimento e principalmente humildade e bom senso.

Um dia os grandes "dotôs" da sociedade, que se acham as "grandes mentes do mundo" aprenderão grandes lições com os "peões" que acostumaram a desprezar e humilhar.

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