Emilio Santiago poderia ter sido um membro tardio da bossa nova

Emílio Santiago, grande cantor da MPB que nos deixa hoje, não era compositor. Mas sua voz grave e melodiosa e sua maneira de cantar davam personalidade a muitas músicas que pareciam que ele estava recompondo, como se quisesse, sem pedir permissão, participar da co-autoria das músicas que cantava.

Não me considero fã de Santiago e muito menos compraria a maioria de seus discos, embora sempre o admirasse e considerasse um dos melhores cantores do país. Mas um trabalho gravado pelo cantor merece ser destacado: um tributo a bossa nova gravado em 2000 (foto). O que se pode chamar de um verdadeiro discaço.

Normalmente não gosto de versões recentes de clássicos da bossa nova. Além de soarem em sua maioria como piano-bar, gosto mesmo das gravações da época, pois a tecnologia de gravação no auge da bossa nova (entre as décadas de 50 e início de 60), dava um charme próprio ao estilo. Mas o álbum de Santiago é uma exceção a essa regra.

Santiago emprestou a sua voz a uma boa seleção de clássicos da bossa nova, resultando num casamento perfeito. A impressão que se tem ao ouvir o álbum é de que o cantor de voz perfeita era na verdade um membro tardio da bossa nova, um integrante da turma que chegou atrasado para a festa, mas que soube bem entrar no clima, mesmo no finalzinho. Além de estar muito a vontade no álbum, parece que a voz dele foi feita sob medida para o estilo consagrado por Antônio Carlos Jobim e João Gilberto.

O álbum de bossa nova, na minha opinião, é o melhor do cantor e a união da voz dele e do impecável repertório se tornaram um dos melhores momentos da MPB de todos os tempos. Mesmo sendo em 2000, onde a musica brasileira estava em franca decadência, iniciada nos anos 90 e encontrando sua piora atualmente. O disco Bossa Nova de Santiago é o melhor de MPB de 2000 e um dos melhores da discografia de MPB em 30 anos.

Aliás, por justamente a música brasileira estar de mal a pior, a tristeza pela morte de Emílio Santiago se torna ainda maior, pois o cantor era um dos resquícios de boa música que havia em nosso país atualmente. Não morreu um cantor, morreu uma tendência. Não é todo ano que nasce um Emílio Santiago para acrescentar beleza, classe e elegância a música feita em nosso país.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Canção do Ultraje a Rigor é plágio de música de banda francesa de new-wave

Personagem de novela me fez chorar sinceramente

Eu detesto feriados