A sopa de cabeça de cabra dos Rolling Stones

Não sou muito chegado à sopas, se for de cabeça de cabra, então, nem pensar. Mas no mês passado consegui comprar para mim a cópia remasterizada de 2009 do álbum dos Rolling Stones de 1973, que se chama Goat's Head Soup, a "sopa de cabeça de cabra".

Meu irmão Alexandre, de O Kylocyclo, comprou esse álbum em vinil em 1994 (ano do relançamento anterior em cd e segunda edição digital do álbum) e recomprou em cd (a edição remasterizada em 1994) em 1998. Mas como eu gosto bastante desse álbum, que faz parte da melhor fase dos Stones (1967-1974), resolvi comprar uma cópia para mim também (Alexandre ainda guarda a cópia que pertence a ele) e a nova versão remasterizada veio a calhar. Comprei o citado cd na Saraiva da Rua do Ouvidor, no Rio. Quando eu morava em Salvador eu era frequentador assíduo da Saraiva do Salvador Shopping, onde também comprei vários bons discos como uma coletânea de Bob Dylan, outra do Supertramp e uma raridade do Alan Parsons e o primeiro da cantora galesa Duffy.

A nova versão veio sem surpresas em relação à edição de 1994, mesmo design, fotos, capas, contracapas, etc. Sequer incluiram faixas-bônus. Mas não precisava. As 10 canções do álbum original propriamente dito tornam "Goats" uma delícia.

A mais autêntica mistura de rock/blues/soul, executada pela excelente banda (a mais antiga em atividade, depois dos igualmente "demoníacos" Demônios da Garôa). Mas Jagger, Richards & CIA não estavam sozinhos. Um timaço de bambas estavam por trás deles, para começar o genial pianista Ian Stewart, apelidado de "sexto stone" e que infelizmente faleceu em 1985 e homenageado pela banda no álbum de 1986, Dirty Work. Além dele o tecladista que solou em Get Back dos Beatles (rivalidade? Onde? Onde?), Billy Preston, que tinha um excelente mas pouco conhecido trabalho solo e faleceu há poucos anos. Além desses, Jim Horn, Andy Johns, Nicky Hopkins e Bobby Keys, esses últimos tocando em várias fases com os Rolling Stones. Keys, inclusive, estava no já clássico concerto da praia de Copacabana, o maior público na carreira da banda. A produção ficou a cargo de Jimmy Miller, conhecido por produzir muitos álbuns de qualidade na época. Isso é que é seleção.

O repertório também é arrebatador. Os caras estavam inspirados. Começando com um meio blues quase pré-disco-music, Dancing with Mr. D, que pelo que parece o "D" é o chifrudo, o cabrunco (bastante cultuado em igrejas como a Universal. Lá, fala-se mais no Mr. D do que em Deus). Logo em seguida vem 100 years ago, que começa meio country e depois descamba para o autêntico e empolgante rock 70.

A terceira faixa, uma soul-ballad misturada com country, Coming Down Again, (deve ter sido inspirada em Ray Charles), cantada por Keith Richards. Não sei porque ninguém teve a idéia de lançar uma coletânea só com músicas cantadas por Richards. Seria curioso.

Aí vem a dançante Doo Doo Doo Doo Doo (Heartbreaker) que também soa como uma pré-disco. Também virou hit do álbum.

A quinta é bem conhecida, Angie, faixa de trabalho do álbum. Aqui o piano não é de Ian, mas de Mick Taylor, o cara que substituiu Brian Jones e que era músico do John Mayalls Bluesbreakers. Essa e a 8ª faixa, Winter (escrita pelos dois Micks, mas assinada por Jagger & Richards) estão entre as melhores baladas (sem gírias falsas, please) da banda.

Também temos blues rápido, Silver Train, que parece uma segunda parte da Love in Vain de Robert Johnson que a banda gravou no álbum Let It Bleed, que meu irmão também tem. Temos mais uma soul ballad, Can You Hear The Music, e um rock debochado a melhor maneira Stones, Star Star, que ironiza o show business em sua letra.

Enfim um álbum definitivo. Foram 25 reais muito bem aplicados.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Canção do Ultraje a Rigor é plágio de música de banda francesa de new-wave

Personagem de novela me fez chorar sinceramente

Eu detesto feriados