20 anos da minha ida a Salvador

Hoje completam 20 anos da minha ida Salvador, o que eu considero um dos erros de minha vida. Estava totalmente estabilizado em Niterói, cidade onde voltei a morar em 2008, porque tinha que mudar de cidade? Por imaturidade, claro!

E essa mudança ocorreu na pior hora, já que eu estava com 19 anos, numa faixa de idade onde deveria ter começado a vida profissional. E a ida a um lugar novo, de costumes e idéias diferentes, sem gente conhecida (somente parentes - mas esses não ajudaram em nada), nesta fase da vida, só prejudicou, já que ao mesmo tempo que tinha que resolver minha vida profissional tinha que me adaptar a uma nova vida que se iniciava. Era como nascer de novo, abandonando a confortável placenta para encarar o mundo selvagem externo.

Mas foi bom de algum modo, já que eu amadureci na minha estadia em Salvador. Tudo bem que só aos 30 anos consegui a verdadeira maturidade necessária para uma vida independente, coisa que a maioria das pessoas já consegue aos 15 (?!). Mas muita coisa desagradável teve que acontecer par forçar a minha maturidade. Não vou detalhar nada aqui. O que posso dizer é que voltei a Niterói como um soldado que voltou da guerra, mais corajoso e amadurecido. Situações de fracasso realmente educam.

Nada tenho contra Salvador. Até gosto da cidade em si. Só não gosto dos costumes e das idéias do povo de lá. Me passam a imagem de gente atrasada, que ainda vive no tempo da pedra lascada. Pensam que estão no futuro só porque instalaram computadores em suas casas. Mas pra quê computador, se o que é escrito no teclado nesta máquina é do tempo das cavernas. Se os soteropolitanos (quer ofender um baiano? Chame-o de salvadorenho) parassem com teimosia e ouvissem as pessoas de outros estados, eles evoluiriam. Teimosia é o freio de mão da evolução do ser humano.

Mas existem exceções. Conheci vários baianos sufocados pela ideologia local e pela teimosia da maioria e que são obrigados a viver isolados por não compactuar com as idéias dominantes. E a mídia insiste em ignorar a existência desses baianos não-estereotipados. Quanto ao lugar, tem muitas coisas legais, e por incrível que pareça , não estão limitadas aos pontos turísticos. Vou escrever sobre eles mais tarde.

Saí de lá em busca de dignidade de vida. Mas como os anos 90 foram a década da baianização do Brasil, Niterói também foi afetada e tive perdas na volta. A baianização do Brasil afetou a mente de muita gente e fez o povo ficar ainda mais burro, mais interesseiro e mais fanático por festas e similares.

E também, a minha vida social da adolescência foi praticamente arruinada, pois meus ex-colegas, além de estarem bem-de-vida, casados, com filhos, ou não se lembram mais de mim ou não querem mais retomar contato comigo. De qualquer modo, se sentem felizes com o rumo que deram.

A Niterói que se mostrou para mim em meu retorno é uma Niterói inédita. Como se eu conhecesse a cidade pela primeira vez. Exatamente como quando eu cheguei a Salvador há 20 anos.

Claro que em Niterói recuperei várias fontes de prazer. Aqui posso passear, ter opções de lazer, comprar os produtos que eu quero. Boas livrarias, bons cinemas. Por mais dominante que seja o "funk" carioca, aqui ele não é unanimidade (como o axé é em Salvador) e tenho condições de ter uma vida cultural digna e intelectualizada.

Mesmo magoado, sou grato a Salvador. À cidade, não ao povo. Pude pelo menos desenvolver minha personalidade para estar mais preparado para encarar esse país injusto e teimoso, onde as dificuldades para se conseguir um benefício só aumentam e as pessoas vivem anestesiadas pela mídia que as faz fingir que vive em uma nação onde só acontecem coisas boas: um paraíso.

Hoje, na véspera de minha quarta década, sou um homem maduro, magoado e desconfiado, é verdade, mas pronto para dar o melhor de mim para fazer a mim e aos outros se sentirem cada vez melhor.

Se eu tiver que voltar para lá, voltarei, mas não por vontade própria. Pois lá eu sei que as limitações são maiores. De qualquer modo: valeu, Salvador. As lágrimas que obtive ajudaram a lavar minha alma.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Canção do Ultraje a Rigor é plágio de música de banda francesa de new-wave

Personagem de novela me fez chorar sinceramente

Eu detesto feriados