Popularesco já não engana muita gente, mas pop de mercado estrangeiro ainda ilude

Aos poucos, os ritmos do popularesco, a música do "povão" (axé, pagode, "funk", "sertanejo", brega e similares), já não convencem mais com aquela conversa enganosa de que são a nova "cultura" brasileira, a nova "MPB" e outras definições que não nos enganam mais.

A saída para o popularesco continuar existindo e dominando as paradas e a programação de rádios e TVs é assumir a sua posição mercantil, sua vocação exclusivamente lúdica e parar de posar de "intelectual" e "moderna". Popularesco é coisa de gente sem instrução ou sem interesses intelectualizantes e ponto final.

Na maior parte do país, o popularesco vem se enfraquecendo gradativamente. Com a intelectualização das pessoas e com o desenvolvimento da moralidade que se iniciará nos próximos anos, não faz mais sentido permanecer no mesmo astral de burrice e baixaria que são tão inerentes ao popularesco. A volta do popularesco aos limites do entretenimento puro é uma vitória.

Mas e o pop de mercado estrangeiro? Ele ainda é visto como "salvação da cultura mundial" nas terras brasileiras. O que a mídia brasileira não divulga, os brasileiros não sabem e não querem saber é que o pop estrangeiro que chaga aqui é nada mais, nada menos que o popularesco de seus países. Isso mesmo. Falam verdades sobre ídolos como Ivete Sangalo, mas o similar ianque é respeitado como se fosse um intelectual.

A morte de Michael Jackson mostra isso. Quando a intelectualidade musical estava em alta no Brasil, o finado cantor era frequentemente citado como exemplo de "lixo" cultural que os EUA despejavam em nosso país. Acho definir Jackson como "lixo" um exagero, já que ele tinha a sua competência dentro dos limites do lúdico. Mas a histeria gerada com a morte dele deu uma importância muito maior do que ele realmente tinha, como se tudo que há de evoluído na cultura mundial fosse de responsabilidade exclusiva dele. Isso mostra a total desinformação dos brasileiros sobre o que realmente acontece na cultura e na "cultura" internacional.

Ainda somos uma país que trata Michael Jackson como "gênio", Ray Conniff como "erudito", Celine Dion como "sofisticada" e Lady Gaga como "alternativa", fora outras definições equivocadas. É aquela velha mania de atribuirmos intelectualidade a algo puramente lúdico, como alguém que consegue enxergar cabelo em casca de ovo. Somos um povo bastante ingênuo em relação a estrangeiros. Sempre pensamos que eles são superiores a nós e que não possuem defeitos. Verdade?

Há casos onde brasileiros dão um banho de cultura nos estrangeiros, chegando a superá-los. A comunidade dedicada a Legião Urbana teve um tópico criado por fãs do Michael Jackson onde ocorreu um desfile de bobagens com extremo nível de desconhecimento histórico-cultural e de total falta do senso do ridículo.

Lá, um engraçadinho, visivelmente histérico com a morte do "Rei do Pop" (um rótulo que não quer dizer nada, como dizer que "Jesus é o Senhor"), disse que Renato Russo e o cantor ianque eram almas-gêmeas. Chega a ser incrível, em pleno século XXI, com internet e o escambau, haver um desconhecimento tão extremo da historiografia musical, comparando dois nomes que observando nada possuíam em comum, além da morte e da suposta homossexualidade.

E existe o fato - por incrível que pareça - de que o brasileiro era infinitamente melhor que o então recém falecido ídolo ianque, um artista mediano, sem grandes criações, que teve a carreira beneficiada pela presença e assistência de muitos profissionais ao redor, e que cuja popularidade extrema - Jackson soube usar bem os meios de comunicação: seu maior mérito - criou uma mitologia ao redor dele que faz cegar seus próprios fãs. Russo era um poeta, um intelectual. Jackson um mero dançarino e entertainer (algo como um "bobo da corte" moderno).

Jackson, Boy-bands, Emos, Rappers, Aguilera, Britney, Pink, Beyoncé, Justin Bieber, Lady Gaga e todos esses que estamos cansados de ver dominando as paradas de sucessos com suas musiquinhas medíocres, mas recheadas de muito visual, muitos dançarinos e coreografias, clipes produzidíssimos, feitos justamente para dar a ilusão de grandiosidade que só consegue convencer a população de uma nação atrasada como a nossa, que ainda espera a redenção humana vir através de uma miserável copa de futebol: um povo que precisa aprender muito, criar gosto pela leitura e pelo passado, para tirar as lições e entender de fato como funcionam as coisas.

Muito há para ser feito para que a população brasileira não continue a ser enganada com o lixo que vem de fora, com a tecnologia descartada que nos chega e com a imposição de um respeito que as nações "superiores" não merecem.

As nações evoluídas possuem uma cultura de qualidade que não chega até nós e que é valorizada por lá, já que a educação é forte por lá. Mesmo assim, ainda há uma boa parte da população nestes países que é meio burra e continua consumindo cultura de péssima qualidade, fazendo crer que os picaretas do irrit-pareide que chegam até nós é a "verdadeira cultura" dos países desenvolvidos.

Lá também tem a sua música de mercado, puramente lúdica e com nada a dizer de relevante. experimentem e traduzam as letras cantadas por gente como Lady Gaga, Britney e Justin Bieber e verão que nada de relevante é dito. Parece trabalho de escolinha de primário. Mas aqui, recebem tratamento de "obra-prima" e seus criadores, de "gênios".

Pessoas, acordem e batalhem pelo YouTube atrás de algo que possa representar uma cultura de qualidade, com bom acabamento nos arranjos e algo a dizer nas letras. Chega desses "artistinhas" rodeados de dançarinos (não entendo porque nunca são rotulados de dance-music), cheios de pose e que escondem a sua mediocridade e total falta de vocação artística com muita produção visual. Lazer não é sinônimo de inércia, pois sempre temos que ir a caça de algo que satisfaça nossa necessidade de progresso intelectual e emotivo.

Não queremos mais ser enganados pelo lixo estrangeiro que jogam em nossas caras. Inclusive o "inofensivo" lixo cultural.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Canção do Ultraje a Rigor é plágio de música de banda francesa de new-wave

Personagem de novela me fez chorar sinceramente

Eu detesto feriados