Peter Gabriel e os 25 anos de "So"

Hoje é um dia feliz para todos os fãs de Peter Gabriel, como eu. Nesta data se comemora os exatos 25 anos do lançamento do disco que é considerado por muitos o melhor da década de 80 em qualidade musical, So, a brilhante obra-prima do fundador do Genesis em sua carreira solo. Tive a felicidade de adquirir uma fita cassete importada - que não está mais comigo há muitos anos - na época do lançamento, graças a uma viagem que meu pai fez para o exterior em 1986.

So é a incursão de Gabriel para um som mais pop, mas não menos experimental e intelectualizado que seus álbuns anteriores. Como é de praxe em toda a carreira solo do cantor, houve a preocupação de reunir músicos gabaritados para formar sua banda de apoio. E que músicos: Stewart Copeland, Jim Kerr, Youssou'n'Dour, Kate Bush, Laurie Anderson, Nile Rodgers, além da banda fixa, com destaque ao superbaixista Toni Levin (integrante da espetacular formação oitentista do King Crimson do mestre Robert Fripp), cuja voz grave pode ser ouvida nas backing vocals de várias faixas do álbum.

O álbum foi gravado parcialmente no Brasil, já que as linhas de percussão, sobretudo da faixa Mercy Street - um baião suave! _ foram gravadas em um estúdio na Barra da Tijuca. A produção foi conduzida por Daniel Lanois que, junto com o ex-Roxy Music Brian Eno, produziu vários álbuns do U2, sobretudo o meu favorito, o The Unforgettable Fire, de 1984.

Especialistas em música consideram So um álbum arrebatador, definitivo não só para a carreira da Gabriel como para a música em geral, sobretudo numa época em que, pelo menos nos EUA e no hit parade britânico, a criatividade musical estava mal das pernas, com ênfase no visual e submissão as regras impostas pela MTV, instalada em 1981.

Gabriel conseguiu fazer um álbum pop que soasse dançante, mas que não aposentasse o cérebro, mantendo a intelectualidade marcante de sua carreira e o rigor na exigência da qualidade musical das músicas. Há quem diga que o disco tenha sido gravado várias vezes para que Gabriel chegasse à perfeição. E chegou.

Tudo bem que eu gosto muitíssimo do disco (um dos poucos para se ouvir inteiro, sem pular faixa), mas o que me fez escrever esse texto foi o valor cultural que ele tem, ajudando a evolução musical - infelizmente não absorvida pelo hit parade. Gabriel é um gênio e depois de quatro verdadeiras obras de arte, quis fazer de seu quinto álbum (o primeiro que não levava seu nome) um álbum ainda mais perfeito.

Gabriel era o verdadeiro gênio que atravessou os anos 80. Fundador do Genesis, foi o responsável pela melhor fase da banda, absolutamente experimental e lírica. Com a sua saída, a banda progressiva perdeu bastante, principalmente com a liderança de Collins, que levaria o grupo para um som menos progressivo e mais comercial (com exceção do excelente álbum de 1983, o único realmente progressivo feito sob as batutas de Collins). Gabriel por sua vez prosseguiu com sua bem sucedida carreira solo, que por incrível que pareça não possui pontos baixos.

Gabriel é que merecia todos os elogios do mundo. Num ato de verdadeiro fanatismo e desespero necrófilo, quiseram atribuir todas as qualidades de Gabriel a Michael Jackson (responsável pelo álbum mais vendido da década e ídolo absoluto da massa em geral naquele momento), que de gênio não tinha nada: era um cantor mediano, bom dançarino e que cercou de gente competente para ajudar a fazer sucesso. Tinha sorte, até morrer em 1009. Jackson não era um criador, como ainda é Peter Gabriel, que com seu So ainda teve a oportunidade de se aproveitar dos clipes, não para disfarçar a pouca qualidade do repertório como fez Jackson, mas como complemento visual de suas canções e isca para atrair jovens menos acostumados com a supostamente rebuscada obra do ex-Genesis.

So é um album para ficar para sempre. Aliás, toda a discografia de Gabriel foi concebida para a eternidade, já que o ex-Genesis sempre esteve a frente de seu tempo. Gabriel vive em outra dimensão, em que as relações tempo/espaço não podem ser entendidas normalmente, e sim através de suas obras primas imperecíveis que ainda tem muito a nos dizer.

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NOTA: Toni Levin é um músico subestimado. Músico americano, baixista de qualidade superior, Levin teve a felicidade de além de integrar a banda fixa de Peter Gabriel em vários álbuns e em concertos, ainda integrou a melhor fase do King Crimson de Robert Fripp, que com suas obras de arte deram "chinelada" na maior parte do que era produzido na época. Em qualquer trabalho, Levin já é uma atração a parte.

Levin (uma figura simpática, marcada por sua careca e seu bigode, que frequentemente faz as backings com sua voz bem grossa, nos trabalhos de Gabriel e do Crimson), junto com Peter Hook do New Order e com Paul McCartney (esses dois nesta semana se apresentando no Brasil), são os melhores baixistas que eu conheço.

O baixo já é um instrumento subestimado, utilizado mais para servir de graves para as músicas. Esse instrumento é tão esnobado, que no pop juvenil comercial ele é até ausente. Madonna, por exemplo nunca teve baixistas em sua banda de apoio, já que os graves eram feitos por sintetizadores, sempre presentes na pop de mercado.










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