Opinião não é patrimônio

O brasileiro acaba de assumir mais uma característica típica, tão típica quanto samba e caipirinha: a teimosia. E é essa teimosia que tem gerado discussões infindáveis e muitas inimizades em redes sociais, além de perpetuar a mediocridade de todos e de tudo a nossa volta.

Na verdade, o orgulho humano que não conseguimos nos livrar transforma a nossa opinião num patrimônio pessoal que ninguém gosta de perder. Para muitos, a sua opinião é uma espécie de atestado de sua personalidade e de qual grupo pertence. 

Quem defende a sua opinião como patrimônio entende que mudar de opinião é deixar de ser ele mesmo, pois assumir que está errado é ruim para a vaidade. Ou até mesmo significa assumir uma derrota, assumir que - supostamente - é um fracassado. Ruim para orgulhosos, não é mesmo?

Por causa dessa vaidade tola que transforma opinião em patrimônio, o que acontece com a maioria dos brasileiros é que se chegam a maioridade defendendo um ponto de vista, levam esse ponto de vista para o túmulo, já que não admitem mudar de ideia, sempre achando que quem pensa o contrário é um burro, mesmo que tenha mais discernimento que o teimoso que insiste em nunca mudar.

Somente uma situação obriga uma pessoa adulta a mudar de ideia: quando a ideia defendida o leva a um fracasso que gera danos pessoais. Aí o cara é forçado a mudar de ideia. Isso é raro, mas acontece. Conheço exemplos famosos, mas não acho conveniente relatá-los aqui.

Mas a maioria trata a sua opinião mesmo como patrimônio e na oportunidade de perder, chega a agressividade quase selvagem. Muitas inimizades surgem da teimosia de quem menos discerne. Para uma sociedade que considera a fé como uma de suas maiores qualidades, acreditar é melhor que discernir, pois não exige esforço e adota-se ideias prontas, muitas vezes falhas. É como engolir fezes pensando que é sorvete. Como em muitos casos o teimoso segue quem tem visibilidade (o formador de opinião que gera a "crença"), normalmente fica com a última palavra, mesmo errada.

É preciso estimular o discernimento, algo que nem as escolas e muito menos a ultra seguida mídia chegam a tentar fazer. Difundir ideias prontas é um perigo pois nisso se consagra erros que se tornam quase impossíveis de corrigir quando são defendidos por um longo tempo. O discernimento ajudaria muito a impedir essas brigas, quase sempre resultantes da ignorância e da defesa de erros, levando a um consenso lógico que ajudaria a entender os fatos como são e não como querem que seja.

O cérebro não é enfeite. Não podemos aceitar tudo que alguém com suposta credibilidade diz. Se uma "autoridade"fala uma besteira, devemos aceitá-la só porque foi dita por uma "autoridade"? Nada disso.

Vamos repensar os nossos conceitos e analisar a opinião alheia ao invés de atacá-la. A sociedade só irá crescer se desenvolvermos o discernimento e pararmos de puxar o saco de "autoridades" que na verdade estão muito mais interessadas em criar um exército de puxa-sacos trouxas que ajudarão a manter esses ignorantes no poder, mantendo os erros que estragam a sociedade por séculos.

Opinião não é patrimônio. Se a lógica e o bom senso mostrarem que estamos errados, devemos mudar imediatamente de ponto de vista, após rigorosa e justa análise. E mudar não mata ninguém.

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